A partir do dia em que decidiu deixar Nazaré, a povoação onde tinha morado com a sua família, Jesus passou a viver em Cafarnaum (Mt 4,12-13), à beira do mar da Galileia, uma cidade de pescadores, agricultores e comerciantes. No mar (lago) a pesca nem sempre era abundante, mas por ali passava uma rota comercial bem movimentada, e nas colinas ali à volta havia terrenos de pastorícia e bons campos de cultivo. Jesus regressava sempre a Cafarnaum depois de cada uma das suas viagens como pregador itinerante. A descrição mais simples que temos deste seu estilo de vida peregrina está na recordação de Pedro, um dos discípulos da primeira hora, em casa de Cornélio, na Cesareia: «Começando da Galileia, Jesus passou fazendo o bem e curando todos» (Act 10,38).
Quando, depois de algum tempo na minha missão, no Quénia, eu partilhava com um dos líderes da comunidade local o meu desejo de poder viver e trabalhar ali o resto da minha vida, ele disse: o que dizes alegra-nos muito, mas nós sabemos que os missionários são gente de passagem; ficam algum tempo connosco e depois quem organiza precisa deles noutro lado e eles passam a outra missão, para fazer bem a outra gente… Ele tinha razão, mesmo se custa sempre deixar comunidades com quem partilhámos uma parte da nossa vida.
Passando, Jesus nunca ficava indiferente. Quase no início do seu Evangelho, Marcos conta-nos que um dia, era sábado, Jesus passava através das searas (Mc 2,23-28). Os discípulos lembraram-se de ripar umas espigas para ir mastigando alguns grãos. São bem saborosos, quando o grão de trigo já está cheio, e ainda está tenro. Os fariseus, sempre à procura de razões para atacar, protestam logo: «O sábado é santo, a Lei proíbe ceifar!» Jesus, olhando para a mesma seara por onde caminhava, pensa no Pai do céu que faz crescer a vida e a defende todos os dias. E logo a seguir, chegando à sinagoga, cura um aleijado que tinha uma mão atrofiada. Protestos de novo! Porém, para Jesus, curar e salvar uma vida é trabalho que Deus gosta de ver todos os dias, e muito mais no dia santo que lhe pertence!
A presença de Jesus que passava não deixava indiferente quem vivia no lugar. É como aqueles peregrinos que vemos passar a pé pela nossa terra. Não são de cá, mas é quase como se fossem, enquanto por cá caminham. A sua passagem lembra-nos algo de importante: a vida é um pouco assim, o que importa é “passar fazendo o bem”, sem nos carregarmos demasiado com coisas que tornam o andar mais pesado e lento. O que nos “dizem passando”, faz-nos bem, e sentimos vontade de lhes agradecer, por passarem por cá.
Jesus, o peregrino, passa, mas não vai distraído. Um dia, estava Levi sentado a cobrar os seus impostos (Lc 5, 27-28). Jesus passou, viu-o e disse-lhe «Segue-me»; e ele ergueu-se e seguiu Jesus. Para ele a passagem de Jesus foi o primeiro dia da sua nova vida. Com Zaqueu, algo de parecido ocorreu em Jericó. Tinha trepado a um sicómoro para poder ver Jesus que ia passar ali por baixo (Lc 19,1-10). E Ele passou, olhou para cima e convidou-o a descer por precisava de ir ficar na sua casa. Naquele dia, Jesus passou na sua casa e Zaqueu passou a uma nova vida de partilha dos bens e de prática da justiça. A passagem de Jesus semeia vida nova em quem nota que Ele passa por perto.