Opinião
26 setembro 2024

Deus caminha com o seu povo

Tempo de leitura: 4 min
As migrações são uma oportunidade de evangelizar por actos e palavras, tendo no horizonte a comunhão na diversidade.
Eugénia Costa Quaresma
Obra Católica Portuguesa das Migrações
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A mensagem pontifícia, para assinalar o Dia Mundial do Migrante e Refugiado, recorda-nos que Deus caminha com o seu povo. Esta verdade de fé evoca a narração bíblica do êxodo e alarga a existência de quem tem de passar por uma experiência migratória ou desenraizamento, até aos nossos dias.

«Deus caminha não só com o seu povo, mas também no seu povo, enquanto Se identifica com os homens e as mulheres que caminham na História – particularmente com os últimos, os pobres, os marginalizados» (cf. Mensagem DMMR 2024). As pessoas a caminho são um ícone vivo da Igreja peregrina na Terra, que desde o Pentecostes almeja abraçar a Humanidade inteira na sua diversidade, anunciando Cristo como Luz. Deus caminha no Seu Povo em mobilidade, profeta de um novo futuro: somos migrantes, não temos nesta terra morada permanente.

A errância, o exílio, as perseguições ancestrais deveriam ensinar-nos a importância do acolhimento; a terra prometida anunciada e sonhada hoje é, para todos os povos, a casa comum que precisamos proteger e cuidar; na diversidade de populações que nos precede e enriquece, somos chamados a promover a fraternidade. É urgente ensinar, em todas as línguas e em todas as religiões, os valores que nos humanizam, reconhecer em cada ser humano um semelhante, um próximo, um irmão, uma irmã. 

Há uma esperança que nos conduz, há uma verdade que nos sustenta e nos faz procurar a segurança; a qualidade de vida, o trabalho, a realização profissional, académica, pessoal, a saúde, o reagrupamento familiar. Há uma esperança que chama e convida a ser migrante com os migrantes. Há uma esperança que educa para a hospitalidade, e nos faz perseguir a justiça e promover a paz, pois nela se revela o Mistério Divino e se fundamenta o Magistério: Deus é amor e pela misericórdia transformamos o mundo.

A Igreja, perita em humanidade, compartilha as alegrias e angústias de muitas pessoas e povos, acompanha e promove o desenvolvimento das comunidades em tantos países, e porque ela própria continua a ser perseguida, reconhece que vivemos tempos difíceis, violentos e compreende as percepções negativas e as reacções intolerantes e xenófobas, mas não pode compactuar com essas atitudes.

As migrações são um sinal dos tempos e uma realidade incontornável das sociedades contemporâneas. Exigem, da parte da Igreja, uma melhor preparação e formação das comunidades, dos migrantes e dos seus agentes pastorais: sacerdotes, consagrados, leigos. As migrações são uma oportunidade de evangelizar por actos e palavras, tendo no horizonte a comunhão na diversidade. O Reino dos Céus constrói-se a partir da interculturalidade, cada pessoa baptizada e comprometida com a sua fé é chamada a ser construtora de pontes.

Para que possamos ser sal e fermento no mundo temos de crescer como pessoas, como comunidade e aprofundar a cooperação entre as Igrejas locais nos países de origem, trânsito e destino dos migrantes e refugiados, intensificar a cooperação ecuménica e inter-religiosa, tanto na oração, como na acção, promover a cooperação entre organizações de inspiração religiosa da sociedade civil, governo e agências internacionais, com vista a um mundo de paz e prosperidade.   

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Novembro 2024 - nº 751
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