No próximo mês de Outubro, volta a reunir-se em Roma a assembleia do Sínodo dos Bispos; somos convidados a reflectir de novo sobre o tema da sinodalidade e, no nosso caso, a falar da missão no contexto de numa Igreja que se quer sinodal.
O instrumento de trabalho, dado a conhecer no começo do Verão, põe a questão a que os membros do sínodo devem responder: Como ser Igreja sinodal missionária?
A próxima sessão do sínodo, de facto, deve iniciar a fase do discernimento; passar das ideias às decisões, no sentido de identificar os caminhos a percorrer para assumir, de mãos dadas, formas concretas de renovação eclesial e empenho missionário. Estarão, assim, em foco três dimensões: «a perspectiva das relações – com o Senhor, entre irmãos e irmãs e entre as Igrejas – que sustentam a vitalidade da Igreja; a perspectiva dos percursos que suportam e alimentam de modo concreto o dinamismo das relações; a perspectiva dos lugares que, contra a tentação de um universalismo abstracto, falam do concreto dos contextos em que se encarnam as relações.»
Os desafios são notáveis: actualizar a capacidade de anúncio e transmissão da fé com modalidades apropriadas ao contexto actual; renovar a vida litúrgica e sacramental; combater a passividade e procurar maior participação e melhor relacionamento entre homens e mulheres na Igreja.
O método proposto para os trabalhos continua a ser «a conversação no Espírito» que implica a capacidade de escuta do Outro (Deus) e dos outros, o silêncio interior, anterior às palavras e aos gestos que garante espaço para os outros e os seus pontos de vista. E que possibilita procedermos de mãos dadas, em unidade e comunhão eclesial e não em conflito e ruptura. Esta insistência sobre o silêncio interior e a capacidade de escuta levam-nos a falar da missão como silêncio e da necessidade de verificarmos a nossa capacidade de escuta para vivermos a missão cristã hoje, numa grande diversidade de culturas e situações. A reflexão sinodal é, em si, uma grande escola de escuta e abertura eclesiais.
A reforma eclesial que se procura com este exercício sinodal não é apenas uma reforma de estruturas, mas sim um processo de contínua transformação interior das pessoas para melhor responder aos apelos do Evangelho de Cristo. A reforma das «estruturas deve assentar numa transformação interior segundo os “sentimentos de Cristo Jesus” (Fil 2,5).
Para uma Igreja sinodal, a primeira conversão é a da escuta, cuja descoberta constituiu um dos principais frutos do percurso sinodal realizado até agora: em primeiro lugar, a escuta do Espírito Santo, que é o verdadeiro protagonista do sínodo e, em seguida, a escuta recíproca como disposição essencial para a missão.» Este acento sobre a escuta caracteriza o discernimento e o exercício dos vários ministérios (ordenados e não ordenados), «para os reconhecer e promover, o bispo tem necessidade de escutar as vozes de todos os envolvidos».
Uma Igreja sinodal é, antes de mais nada, uma Igreja que escuta e por isso o documento diz que «parece oportuno criar um ministério de escuta e acompanhamento reconhecido e eventualmente instituído». Estaremos todos de acordo com esta eventualidade, desde que não se reduza a mais uma forma de burocratização que esvazia a escuta.