Opinião
08 outubro 2024

A missão ad gentes na Igreja local

Tempo de leitura: 4 min
Texto do cardeal Luis Antonio G. Tagle, pró-prefeito da secção para a primeira evangelização e as novas Igrejas particulares do Dicastério para a Evangelização, que sublinha que «permanecer com Jesus deve incitar-nos a ir ter com os outros para partilhar Jesus».
Cardeal Luis Antonio Tagle
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Todo o discípulo de Jesus deve ser um missionário. Todo missionário deve ser um discípulo de Jesus. Na Bíblia, o discipulado missionário implica ir ter com Jesus, ficar com Jesus e ir ter com outros para partilhar Jesus. É um movimento sem fim. É isso que torna o Cristianismo dinâmico e entusiasmante. Estamos sempre a ficar e a andar. Vejamos alguns textos do Novo Testamento.

O Evangelho de Marcos 3,14-15 diz: «Então ele [Jesus] designou os Doze para estarem com ele e para os enviar a pregar, dando-lhes poder para expulsar demónios.» Desde o início do chamamento dos doze apóstolos, Jesus quis que eles estivessem com ele, que ficassem com ele, que comessem com ele, para os enviar. Estar com Jesus implica ser enviado por Jesus. Ser enviado por Jesus pressupõe ter passado algum tempo com Jesus. Não há «permanência» sem «saída». 

No Evangelho de João 1,35-42, ouvimos João Baptista indicar Jesus, o Cordeiro de Deus, a dois dos seus discípulos que tinham estado com ele. Quando Jesus viu que eles o seguiam, perguntou-lhes o que procuravam. Eles responderam: «Mestre, onde estás hospedado? Jesus respondeu-lhes: “Vinde ver”.» André e o outro discípulo ficaram com Jesus. [...] Aqueles que ficam com Jesus procuram outros para os levar a Jesus. Assim começa todo um ciclo dinâmico de discipulado e missão. Outro exemplo do Evangelho de João é o encontro entre Jesus e a mulher samaritana junto ao poço de Jacob (Jo 4,4-42). Depois de ter tido uma conversa simples, mas profunda, com Jesus, ela foi à aldeia falar dele às pessoas. [...]. 

Um último exemplo encontra-se em Marcos 5, 1-20. Depois de Jesus ter curado o homem de Gérasa que estava possuído por espíritos malignos, ele implorou para ficar ou permanecer com Jesus. Mas Jesus recusou. Disse-lhe que fosse ter com a sua família para lhe anunciar o que o Deus misericordioso tinha feito com ele. [...] Aqueles que experimentam os actos poderosos de Deus quando estão com Jesus devem voltar para casa e ir a outros lugares anunciar a Boa Nova. 

A partir destes poucos exemplos do Novo Testamento, aprendemos que a missão aos outros se enraíza numa experiência com o Senhor, de ir ter com Ele e ficar com Ele. Isso dá o impulso para ir em busca de outras pessoas. A missão ad gentes não deve esquecer os nossos familiares (como André, que procurou Simão Pedro, e o endemoninhado geraseno curado que foi a sua casa), os nossos amigos (como Filipe procurou Natanael) e as pessoas da nossa aldeia (como a Samaritana). Pergunto-vos, caros amigos: fazeis o mesmo? É assim que a fé cristã se transmite na família, nos grupos de amigos, na região. Podemos chamar-lhe a semente de uma Igreja local. Filhos, depois de estarem com Jesus, procurem os vossos pais e levem-nos até ele. Pais, façam o mesmo com os vossos filhos. Jovens, procurem os vossos amigos ou colegas de escola e levem-nos a Jesus, mesmo através de conteúdos das redes sociais, anunciem Jesus. Uma comunidade cristã ou uma Igreja local é o fruto do discipulado missionário. A Igreja local é também o agente ou instrumento do discipulado missionário. Permanecer com Jesus deve incitar-nos a ir ter com os outros para partilhar Jesus.   

 

Excertos da conferência «A missão ad gentes na Igreja local», XIII Congresso Nacional Missionário, Bogotá, Colômbia, 5 de Julho de 2024

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