A mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões, que se celebra neste mês de Outubro, oferece-nos o título para este texto: falar da missão cristã como convite, a fazer por conta de Jesus Cristo. E, indo além do falar dela, propor e viver a missão cristã como convite a fazer aos nossos irmãos, de modo contante, por palavras e obras (testemunho).
Francisco, e nós com ele, tomamos a expressão de uma parábola de Jesus: «Ide e convidai a todos para o banquete» (cf. Mt 22). Vemos esta atitude aberta e propositiva, tão própria de Deus, reflectida no ministério de Jesus, no seu ensinamento e nas suas obras. De facto, não encontramos no Evangelho um apelo a impor ou ao uso de qualquer forma de violência física ou verbal para comunicarmos o Evangelho aos outros. Pelo contrário, notamos sim um apelo constante à liberdade e à responsabilidade pessoal diante do ensinamento que Jesus propõe; por isso, é adequado falar da missão como convite e perceber que a adopção desta perspectiva ilumina os aspectos fundamentais da missão cristã hoje.
Uma primeira conclusão impõe-se: do ponto de vista da forma, do modo como realizamos a missão cristã, não são admissíveis modos impositivos. O discípulo-missionário de Cristo vai ao encontro dos outros, de modo incansável, para levar o convite de Deus que oferece salvação. A imagem do banquete é elucidativa, desde os tempos do Antigo Testamento, para falar do que Deus oferece quando reconhecemos a Sua soberania: uma plenitude de vida à Sua mesa!
No que vai do seu pontificado, Francisco não se cansa de reclamar para os cristãos este agir inspirado na magnanimidade de Deus e no comportamento de Jesus: «Ao proclamar ao mundo a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado os discípulos-missionários fazem-no com alegria, magnanimidade, benevolência; sem imposição, coerção nem proselitismo; mas sempre com proximidade, compaixão e ternura, que reflectem o modo de ser e agir de Deus.» Alguém objectará que nem sempre o zelo missionário se manifestou desta forma evangélica. Houve, efectivamente, épocas em que modalidades inadequadas comprometeram a missão cristã. Mas, se importa reconhecê-lo com humildade, importa igualmente afirmar, sem ambiguidade, onde nos encontramos hoje: «Enquanto o mundo propõe os vários “banquetes” do consumismo, do bem-estar egoísta, da acumulação, do individualismo, o Evangelho convida a todos para o banquete divino onde reinam a alegria, a partilha, a justiça, a fraternidade, na comunhão com Deus e com os outros.»
A imagem do banquete reclama a celebração Eucarística. Francisco recorda que toda a renovação litúrgica leva a uma renovação do espírito missionário nas comunidades cristãs: «Não podemos abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da missão que, partindo do Coração de Deus, visa atingir todos os homens.»
O convite de Deus e a missão cristã que o anuncia é universal; isto é, aberto a todos, para todos. E, por outro lado, a missão cristã é tarefa de todos, numa igreja que se quer sinodal. «A missão para todos requer o empenho de todos», recorda-nos Francisco; mas, se requer o empenho de todos, não pode assumir outras modalidades que não sejam as do convite, no nome e ao estilo de Cristo.