Opinião
01 novembro 2024

Opção preferencial pelos pobres

Tempo de leitura: 4 min
O Dia Mundial dos Pobres é um momento oportuno para continuar o processo de conversão pessoal e pastoral e optar preferencialmente pelos pobres.
Bernardino Frutuoso
Director
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É ao teólogo peruano Gustavo Gutiérrez (1928-2024), falecido no passado dia 22 de Outubro, que se deve a tematização da «opção preferencial pelos pobres», que o magistério da Igreja assume como ponto fulcral da fé em Jesus Cristo. Conheci-o na sua terra natal, Lima, a capital do Peru, nos anos 1990. Era uma pessoa simples, calorosa, empática, com uma acuidade mental ímpar e uma grande proximidade com os pobres e marginalizados. Da periferia do mundo, o padre Gustavo formulou a pergunta que orientou o seu pensamento teológico e a sua vasta bibliografia: como dizer aos pobres que Deus os ama? Nesta perspectiva, considerou o sofrimento do pobre como um lugar teológico (fonte a partir da qual se raciocina em matéria de fé), promovendo uma reflexão em que punha os pobres no centro, propondo acções pastorais, missionárias e evangelizadoras a partir da realidade para as transformar por meio do testemunho evangélico.

Foi precisamente para nos ajudar a superar a cultura da indiferença perante o clamor dos pobres, levando os crentes a viver a misericórdia, a fraternidade e a solidariedade para com os excluídos, que o Papa Francisco instituiu a celebração anual do Dia Mundial dos Pobres (este ano assinala-se no dia 17). Na mensagem que escreveu (ver página 9), o papa assinala que Deus, como Pai, «preocupa-se com aqueles que mais precisam dele: os pobres, os marginalizados, os que sofrem, os esquecidos… Ninguém está excluído do seu coração, uma vez que, diante d’Ele, todos somos pobres e necessitados». E continua mencionando que «a mentalidade mundana pede que sejamos alguém, que nos tornemos famosos independentemente de tudo e de todos, quebrando as regras sociais para alcançar a riqueza. Que triste ilusão! A felicidade não se adquire espezinhando os direitos e a dignidade dos outros». 

Neste sentido, Francisco volta a pôr o foco nos conflitos que assolam diferentes regiões do mundo, referindo que «a violência causada pelas guerras mostra claramente quanta arrogância move aqueles que se consideram poderosos aos olhos dos homens, enquanto aos olhos de Deus são miseráveis». E exclama: «Quantos novos pobres produz esta má política das armas, quantas vítimas inocentes!»

Neste ano de preparação para o Jubileu de 2025, dedicado à oração, o papa indica que «precisamos de fazer nossa a oração dos pobres e rezar com eles. É um desafio que temos de aceitar e uma acção pastoral que precisa de ser alimentada». E lembra que «todos nós fazemos orações que parecem não ter resposta». Não obstante, «o silêncio de Deus não significa distracção face ao nosso sofrimento; pelo contrário, contém uma palavra que pede para ser acolhida com confiança, abandonando-nos a Ele e à sua vontade».

O Dia Mundial dos Pobres é uma oportunidade pastoral, sublinha o papa, «que não deve ser subestimada, porque desafia cada fiel a escutar a oração dos pobres, tomando consciência da sua presença e das suas necessidades». Francisco termina o texto destacando que «em todas as circunstâncias, somos chamados a ser amigos dos pobres, seguindo os passos de Jesus, que foi o primeiro a solidarizar-se com os últimos». Esta jornada é, efectivamente, um kairós, um momento oportuno para continuar o processo de conversão pessoal e pastoral e optar preferencialmente pelos pobres.  

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Novembro 2024 - nº 751
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