Opinião
03 novembro 2024

Da prova à experiência de Deus

Tempo de leitura: 4 min
Se queres saber se Deus existe, não procures provas, mas experiências.
Miguel Oliveira Panão
Professor universitário
---

Ouça este artigo

Os livros que exploram a possibilidade da(s) prova(s) da existência de Deus continuam a ser publicados, sendo o mais recente Deus, a Ciência, as Provas – A Alvorada de uma Revolução, de Michel-Yves Bolloré e Olivier Bonnassies. Ainda não tive oportunidade de ler o livro, mas recebo o fascínio com que as pessoas o partilham, ou os destaques que vemos nas livrarias, como sinal de que o tema é actual. Porém, tenho algumas reservas.

Há catorze anos, escrevi um artigo no meu blogue (cienciafe.miguelpanao.com) intitulado «Prova científica da existência de Deus?», no qual explorava como não tinha qualquer sentido escrever que «se Deus é a realidade que tudo determina, para haver uma prova científica da Sua existência, tanto o método como o acto de observação teriam de ser maiores que o objecto formal de estudo, logo, o método e acto de observar teriam de ser realidades maiores que Aquela que tudo determina e, consequentemente, essa deixaria de ser a realidade que tudo determina, resultanto numa inconsistência. Assim, por absurdo, a pergunta não tem qualquer sentido.»

Não sou o único a pensar assim, mas recentemente, ao folhear um outro livro, A Equação Divina, de Michio Kaku, deparei-me com a mesma questão e o autor a dado momento refere S. Tomás de Aquino e três provas argumentadas como explicativas para a existência de Deus. A prova cosmológica, segundo a qual Deus seria a Primeira Causa que põe tudo em movimento neste Universo. A prova teológica, que coloca a necessidade de um designer para justificar a complexidade existente no mundo. E, por fim, a prova ontológica, em que Deus é o ser mais perfeito que podemos imaginar, mas sendo possível imaginar um Deus que não existe, então esse Deus imaginado não seria perfeito, concluindo-se que Deus tem de existir. Este último argumento descrito por Kaku é um tanto rebuscado e confuso, mas a ideia de haver ou não provas, honestamente, continua a não fazer nenhum sentido para mim. Eu não acredito porque tenho fé que dispensa provas, mas por ter experiências que me mantêm a mente aberta ao que Deus quiser revelar sobre si próprio.

Como engenheiro, todo o movimento existente no Universo provém de trocas de energia que dispensam qualquer Primeira Causa. A experiência cosmológica de Deus é o assombro diante das maravilhas que observamos neste cosmos, feitas do contraste harmonioso entre o feio e o belo, que nos leva a pensar em Deus e na Sua imensidão de amor.

Como engenheiro mecânico, consigo explicar o design com a lei construtal que estudo, e a complexidade com a criatividade emergente das estruturas dissipativas. A experiência teológica de Deus está na relacionalidade presente no mundo, onde tudo está relacionado com tudo, como marca trinitária (Made in Trinity) impressa na Criação.

Como cristão, a experiência ontológica de Deus diz-me que Ele não existe, mas revela-se Existência e fundamento de tudo o que existe. Faz sentido dizer que a Existência existe? Não creio. Se queres saber se Deus existe, não procures provas, mas experiências.

 

Miguel Panão é professor na Universidade de Coimbra, autor do livro Tempo 3.0 – Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo.

Partilhar
---
EDIÇÃO
Dezembro 2024 - nº 752
Faça a assinatura da Além-Mar. Pode optar por recebê-la em casa e/ou ler o ePaper on-line.