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Escrevo este texto quando em Roma, onde me encontro, decorre a segunda sessão da XVI Assembleia do Sínodo dos Bispos, sob o tema Como ser uma Igreja sinodal: Comunhão, Participação, Missão. Sinto que as palavras que escrevo se devem inserir neste contexto eclesial para ajudar os leitores a sintonizarem com esta importante assembleia e a interessarem-se pelo que dela sair.
Curiosamente é difícil perceber bem o que os membros desta assembleia estão a dizer uns aos outros, numa dinâmica que concede tudo à partilha de reflexões e à escuta de Deus e dos outros (com o método da conversação no Espírito); as conferências de imprensa organizadas pela sala de imprensa filtram e resumem naturalmente os conteúdos. Restam os testemunhos e reflexões de alguns participantes e teólogos/as nos fóruns que estão a ser organizados, numa tarde cada semana. Talvez sejam estes últimos as instâncias de maior interesse para quem deseja escrever sobre o sínodo.
A partilha de reflexões entre os participantes está a ser guiada pelo Instrumento de Trabalho. O foco parece estar na Parte Segunda, que propõe os Percursos a fazer para se realizar a desejada transformação missionária da Igreja; esta sessão do sínodo deveria acentuar o como, os percursos concretos a percorrer, nas várias dimensões do viver eclesial. Mas, neste âmbito, as expectativas são muito contidas. Por um lado, os intervenientes nos fóruns continuam a fazer chover sobre o molhado; isto é, a propor reflexões sobre questões adquiridas e sobre as quais há um consenso eclesial alargado (como a afirmação que a missão é de todos na Igreja). Por outro lado, o Papa Francisco pediu a várias comissões de teólogos uma reflexão sobre algumas questões (mais fracturantes na Igreja hoje, como o lugar da mulher e a identidade e modelos dos ministérios ordenados, etc.); ora, este trabalho só estará concluído em Maio próximo, o que esvazia a eventual reflexão sinodal sobre estes temas.
A perspectiva continua a ser a de aprofundar a sinodalidade para se chegar a uma compreensão mais articulada das três grandes dimensões da vida da Igreja: a do Um (o Primado do Papa), a de alguns (a Colegialidade dos Bispos) e a Co-responsabilidade de todos (da comunidade dos fiéis). Neste sentido, a colegialidade, mais do que um princípio canónico a aplicar, é uma dinâmica de vida eclesial que integra sempre o Primado do papa, a Colegialidade dos bispos, e a Co-responsabilidade e Dignidade dos fiéis. Compreendemos que é necessário aprofundar as questões e estamos com o Papa Francisco quando diz que «a Igreja é obra de Deus e não a construímos nós com as reformas da moda». Mas também temos de assumir que a transformação da Igreja requer uma passagem das palavras aos actos; e que aqui podemos pecar por omissão, demorando nas decisões que levam a uma reforma, ou confundindo reforma da Igreja com alguma decisão pontual (por muito significativa que possa ser, como a nomeação de mulheres para postos de responsabilidade no Vaticano). O coração e centro da Igreja (não é o Vaticano) é a comunidade dos fiéis que guiada por um presbítero celebra a memória de Jesus, a Igreja local que guiada por um bispo (ubi episcopus, ibi ecclesia = onde está o bispo, aí está a Igreja!) celebra a Fé e testemunha o Evangelho de Cristo e o seu poder de transformação.