Vivemos uma época complexa, marcada por incertezas, sofrimentos e medos. Os ventos fortes da guerra e da violência continuam a soprar em muitas regiões do mundo. A cultura do descarte e do consumismo, as desigualdades, o crescente paradigma tecnocrático difundem-se e condicionam muitos dos nossos comportamentos diários. Enfrentamos, igualmente, uma grave crise climática global: a atmosfera aquece, o nível dos mares sobe, a riqueza da biodiversidade perde-se, as secas e as inundações são mais frequentes e severas. Apesar da procura de soluções e consensos multilaterais para enfrentar as alterações climáticas (ver páginas 9 e 16-22 acerca das recentes Conferências sobre o Clima), as medidas assumidas não são aplicadas – como lembra o papa na exortação Laudate Deum. Esta crise, como explica o Papa Francisco na encíclica Laudate Si’, está ligada a uma crise socioeconómica, que afecta sobretudo os mais vulneráveis. Por isso, o papa pede o perdão das dívidas dos países pobres, que nunca poderão pagá-las, que é uma verdadeira «dívida ecológica» – apelo que renova para o jubileu que vamos viver em 2025.
Neste cenário, podemos cair no pessimismo, no desânimo e na passividade. No entanto, como crentes, estamos chamados, como proclama o lema do jubileu de 2025, a ser peregrinos da esperança (ver páginas 30-31). Na bula de proclamação do Ano Santo, que iniciamos no dia 24 deste mês, o Papa Francisco pede-nos que descubramos a esperança nos sinais dos tempos. «Para não cair na tentação de nos considerarmos subjugados pelo mal e pela violência, é necessário prestar atenção a tanto bem que existe no mundo. Porém, os sinais dos tempos, que contêm o anélito do coração humano, carecido da presença salvífica de Deus, pedem para ser transformados em sinais de esperança», sublinha o pontífice.
Os cristãos devemos olhar para o futuro com esperança, tendo «uma visão da vida carregada de entusiasmo para transmitir» e apoiando «uma aliança social em prol da esperança, que seja inclusiva e não ideológica».
Francisco convida-nos, ainda, a ser signos tangíveis de esperança para todos aqueles que não a têm, nomeadamente os doentes, os presos, os migrantes, os pobres, os anciãos. Cada discípulo missionário de Jesus, portanto, tem um papel essencial na construção da cultura da vida e da esperança, como aponta o papa: «Com os gestos, as palavras, as opções de cada dia, a paciência de semear um pouco de encanto e gentileza onde quer que estejamos, queremos cantar a esperança, para que a sua melodia faça vibrar as cordas da Humanidade e desperte nos corações a alegria e a coragem de abraçar a vida».
O Natal é um tempo oportuno para reforçar a esperança e a utopia cristã. Celebramos com alegria que o nosso Deus não está longe, mas vive no meio de nós, porque Ele é o Emanuel, o Deus connosco.
O Menino que nasce em Belém é a fonte da nossa esperança; é a alegria para os nossos corações e a força que nos permite lutar por um mundo melhor, fraterno, solidário e justo. Ele é o Messias prometido, capaz de gerar nos nossos corações a liberdade e a paz, a audácia e o compromisso. Ele faz-nos acreditar que o mundo pode ser uma casa para todos.