Ao começar o ano, celebramos o Dia Mundial da Paz, que nos convida a orar pela paz e a ser seus construtores activos no nosso coração e no nosso ambiente quotidiano. Uma jornada muito relevante numa altura em que a tragédia da guerra está tão presente no nosso mundo. Um recente estudo realizado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos assinala que, entre 1 de Julho de 2023 e 30 de Junho de 2024, estavam activos 134 conflitos no planeta – um dos números mais altos dos últimos trinta anos. A pesquisa revelou que mais de 200 mil pessoas foram mortas. Além disso, os conflitos aumentam o número de deslocados e refugiados – ver páginas 26-29 sobre a situação no Sudão do Sul. De acordo com agências da ONU, o mundo tem hoje mais de 43 milhões de refugiados e quase 80 milhões de pessoas deslocados internos.
Na mensagem para a jornada da paz – ver páginas 22-25 –, o Papa Francisco alerta para as «desigualdades de todos os tipos», o sistema internacional que, se não «for alimentado por uma lógica de solidariedade e interdependência, gera injustiças e aprisiona os países pobres», e o «tratamento desumano dispensado aos migrantes, à degradação ambiental, à confusão gerada intencionalmente pela desinformação, à rejeição a qualquer tipo de diálogo e ao financiamento ostensivo da indústria militar». Perante os acontecimentos actuais, que são «ameaça real à existência de toda a Humanidade», o papa refere que é necessária uma mudança estrutural e cultural, que permita enfrentar este cenário de injustiça e desigualdade, indicando um itinerário de acção que inclui três propostas concretas: o perdão da dívida externa, o fim da pena de morte e um fundo mundial para a eliminação definitiva da fome.
Francisco relaciona estas sugestões com o sentido bíblico e teológico do jubileu que estamos a celebrar – ver páginas 9, 11 e 40-41.
Um evento que nos exorta a ser sinais de esperança e nos impele «a buscar a justiça libertadora de Deus», a escutar «o grito desesperado de ajuda» que se eleva «de muitas partes da Terra» e a superar «uma lógica de exploração, onde o mais forte finge ter o direito de abusar dos mais fracos».
Este tempo de graça convida-nos a procurar a paz verdadeira, que é dom de Deus e é concedida por Ele a um coração desarmado, «um coração que não se esforça por calcular o que é meu e o que é teu; um coração que dissolve o egoísmo para se dispor a ir ao encontro dos outros; um coração que não hesita em reconhecer-se devedor de Deus e que, por isso, está pronto para perdoar as dívidas que oprimem o próximo; um coração que supera o desânimo em relação ao futuro com a esperança de que cada pessoa é um bem para este mundo». E para desarmar o coração é suficiente «um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito». Com estes «pequenos-grandes gestos, aproximamo-nos da meta da paz», pois a paz vem «com o início de um mundo novo», no qual «nos descobrimos diferentes, mais unidos e mais irmãos do que poderíamos imaginar.»