Opinião
07 janeiro 2025

Chamados à Esperança

Tempo de leitura: 4 min
Ser portador de esperança é acreditar que a transformação é possível, imaginável e concretizável.
Miguel Oliveira Panão
Professor universitário
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Num mundo marcado por crises sociais, ambientais e espirituais, somos desafiados a reflectir sobre o nosso papel enquanto seres humanos, como faróis de esperança. No meio do caos, há uma necessidade urgente de irradiarmos uma luz proveniente do interior para retirar o mundo ao nosso redor da escuridão da indiferença e do desespero. Este é um chamamento universal que se torna ainda mais premente nas periferias, onde habitam aqueles que, muitas vezes, são relegados para as margens da sociedade: os mais frágeis, invisíveis no quotidiano de muitos.

A esperança, porém, não é uma ideia abstracta ou romântica. Ela ganha corpo em acções concretas que transformam realidades. Pensemos, por exemplo, nas redes de solidariedade que se formam espontaneamente nas comunidades desfavorecidas. Em bairros periféricos, onde as condições materiais são escassas, sendo comum encontrar pessoas que partilham o pouco que têm. Seja um prato de comida partilhado com um vizinho, seja o apoio emocional dado àquela mãe solteira que luta para criar os filhos, cada gesto é uma semente de esperança plantada em terreno árido.

Nas periferias urbanas, também encontramos exemplos de resiliência através da educação e da cultura. Projectos comunitários que oferecem reforço escolar, aulas de música ou formação profissional para jovens marginalizados são provas de que o ser humano pode resistir à adversidade. Ao abrir caminhos para um futuro mais digno, essas iniciativas não apenas melhoram a vida pessoal de quem delas participa, mas também regeneram o tecido social de comunidades inteiras.

Na dimensão espiritual, a esperança também se manifesta de forma marcante e transformativa. Nas igrejas, mesquitas ou templos que se erguem nos cantos mais pobres das cidades, encontramos pessoas que, através da fé, encontram sentido e força para enfrentar os pequenos-grandes desafios. Nesses espaços, a espiritualidade torna-se uma fonte de resistência à desumanização. É ali que o colectivo se une, que as vozes silenciadas são amplificadas, que as histórias de sofrimento são compartilhadas e readquirem significado.

Uma boa parte de nós, muitas vezes distantes dessas realidades, somos igualmente chamados a agir. Ser um ser de esperança implica olhar para a periferia – geográfica ou existencial – com olhos de empatia. Implica reconhecer a dignidade do outro e comprometer-se com a construção de um mundo onde ninguém seja deixado para trás. Isso pode significar envolver-se em iniciativas sociais, apoiar organizações que actuam directamente junto dos mais vulneráveis ou, simplesmente, abrir espaço para ouvir e acolher o próximo.

Ser portador de esperança é acreditar que a transformação é possível, imaginável e concretizável. Como disse o médico Jonas Salk, «a esperança reside nos sonhos, na imaginação e na coragem daqueles que se atrevem a tornar os sonhos uma realidade». Nas periferias do mundo e do coração, a nossa luz interior brilha nos sorrisos e na forma de actos de bondade e gratuidade. O desafio que temos diante de nós é deixar que a fonte dessa luz interior, Deus, brilhe em nós e entre nós, deixando um legado de esperança para as actuais e futuras gerações. 

 

Miguel Panão é professor na Universidade de Coimbra, autor do livro Tempo 3.0 – Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo. 

 

 

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