Opinião
07 fevereiro 2025

Abrir o coração à esperança

Tempo de leitura: 4 min
Peregrinar em esperança é um caminho de conversão e abertura à novidade do Espírito, que nos abre o coração ao mundo.
Bernardino Frutuoso
Director
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No passado dia 24 de Dezembro, milhões de pessoas vimos as imagens, transmitidas pelos média, do Papa Francisco a abrir a Porta Santa da Basílica de São Pedro e, com esse gesto, inaugurar o ano jubilar. O papa, transportado em cadeira de rodas, abriu a Porta Santa em silêncio. Em seguida, enquanto os sinos da Basílica de São Pedro tocavam, entrou na basílica acompanhado por 54 católicos dos cinco continentes – um símbolo da universalidade da Salvação – e por membros de outras Igrejas e comunhões cristãs presentes em Roma, um gesto ecuménico e de hospitalidade que se realiza no horizonte da celebração dos 1700 anos do primeiro Concílio de Niceia. 

Na primeira homilia deste tempo de graça, o Santo Padre assinalou que o jubileu é o tempo da esperança. Chama-nos «a uma renovação espiritual e compromete-nos na transformação do mundo, para que este se torne verdadeiramente um tempo jubilar: que seja assim para a nossa mãe Terra, desfigurada pela lógica do lucro; que seja assim para os países mais pobres, sobrecarregados de dívidas injustas; que seja assim para todos aqueles que são prisioneiros de antigas e novas escravidões». E Francisco frisou que todos nós, discípulos missionários, temos o «compromisso de levar a esperança onde ela se perdeu: onde a vida está ferida, nas expectativas traídas, nos sonhos desfeitos, nos fracassos que despedaçam o coração; no cansaço de quem já não aguenta mais, na solidão amarga de quem se sente derrotado, no sofrimento que consome a alma; nos dias longos e vazios dos encarcerados, nos aposentos estreitos e frios dos pobres, nos lugares profanados pela guerra e pela violência. Levar esperança ali, semear esperança ali».

Na bula de convocação do Jubileu, Francisco escreveu que desejava abrir uma porta santa numa prisão, para que fosse para os reclusos um sinal de proximidade e «um símbolo que os convida a olhar o futuro com esperança e renovado compromisso de vida». E, efectivamente, no dia 26 de Dezembro, pela primeira vez na História, um papa abriu uma porta santa numa cadeia: a prisão romana de Rebibbia, a maior de Itália. Nessa ocasião, o papa afirmou que a graça do jubileu «é abrir, abrir de par em par e sobretudo abrir o coração à esperança», pois «a esperança não desilude
(cf. Rm 5, 5), nunca».

Ao abrir a segunda porta santa num estabelecimento prisional, antes de outros templos jubilares de referência na capital italiana, Francisco revela que a esperança cristã não é uma ilusão sentimental ou um produto para a nossa autocomplacência. A esperança, que tem como fonte e fim Jesus de Nazaré, convida-nos a abrir o coração, a ir ao encontro dos mais necessitados, a construir relações de convivência, paz e fraternidade – ver páginas 16-21 –,
a praticar a misericórdia nos rostos concretos de migrantes, dos doentes – ver página 9 –, dos idosos. Peregrinar em esperança é um caminho de conversão e abertura à novidade do Espírito, que nos abre o coração ao mundo e faz de nós testemunhas do amor e da misericórdia do nosso Deus.   

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Tags
Editorial
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Fevereiro 2025 - nº 754
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