Celebramos o Dia Mundial do Doente em sintonia com o ano jubilar, que nos convida à esperança. A esperança é o combustível que nos move para uma meta. Porque esperamos, temos força para peregrinar, lutar e até correr em circunstâncias adversas. A sua ausência tem consequências devastadoras para a vida da pessoa, levando-a a negligenciar a saúde, abandonar tratamentos e isolar-se socialmente. Quem perde a esperança, desiste de viver, diz-nos Viktor Frankl, psicólogo existencial e humanista, que estudou em busca do sentido da vida.
A esperança, porém, não é um mero optimismo, pensamento ou atitude positiva: é uma virtude teologal que nos ancora firmemente em Deus. É uma confiança inabalável no amor e nas promessas de Deus, mesmo diante do sofrimento e da incerteza. Como capelão hospitalar, testemunho inúmeras vezes o seu poder transformador na vida dos doentes. Não apenas ajuda a suportar o sofrimento, mas também pode ser um catalisador para a cura e recuperação.
O Papa Francisco dedica várias catequeses semanais à esperança e diz-nos que «os cristãos têm esperança mesmo quando tudo parece perdido», pois «o desespero é derrotado porque Deus está no meio de nós». Citando uma experiência bíblica, diz que Raquel – a que não quer ser consolada – ensina-nos também quanta delicadeza nos é pedida face à dor de outrem. Para falar de esperança a quem está desesperado, é necessário compartilhar o seu desespero; para enxugar uma lágrima do rosto de quem sofre, é preciso unir ao seu o nosso pranto. Somente assim as nossas palavras podem ser realmente capazes de dar um pouco de esperança. E se não posso proferir palavras assim, com o pranto, com a dor, é melhor o silêncio, a carícia, o gesto, sem palavras. As lágrimas geraram esperança, as lágrimas semeiam esperança, são sementes de esperança.
Cada cristão faz como o seu mestre Jesus. Ele está com os que sofrem, com quem está doente, com os marginalizados, com aqueles que se sentem desesperados. Mas ao mesmo tempo, o cristão aprendeu a ler tudo isto com os olhos da Páscoa, com os olhos de Cristo Ressuscitado.
O cristão está no mundo iluminado por esta esperança. Por isso: cultiva-a e aprofunda o seu significado; compromete-se com a comunidade (grupos de oração e reflexão pastoral, iniciativas concretas); promove acompanhamento espiritual que garanta presença, escuta e oração aos doentes e suas famílias, ajudando-os a encontrar sentido e esperança no sofrimento; celebra os sacramentos da cura (especialmente a Unção dos Enfermos, que é um sacramento que busca proporcionar conforto, paz e coragem aos doentes, além do perdão dos pecados e, se for a vontade de Deus, a cura física); contribui para a purificação da linguagem sobre o sofrimento.
Como nos lembra o Papa Francisco, a esperança cristã é a âncora da alma, a âncora no céu. Na saúde ou na doença, ela mantém-nos firmes, não porque negamos a realidade do sofrimento que nos fere, mas porque confiamos no amor e fidelidade de Deus que nos salva.