O arcebispo católico de Nairobi, Quénia, publicou uma declaração a pedir conformidade com as directivas da Conferência de Bispos Católicos do Quénia (KCCB na sigla em inglês) publicadas cinco dias antes sobre donativos de políticos à Igreja para evitar a sua politização e salvaguardar a independência.
A mensagem de Dom Philip Anyolo (na foto) foi publicada um dia depois de a paróquia católica de Soweto, na periferia leste de Nairobi, ter organizado a 17 de Novembro de 2024 uma iniciativa para recolha de fundos. Nesse domingo, a declaração dos bispos foi lida nas missas de todas as paróquias do Quénia. O presidente da República e o governador do condado de Nairobi marcaram presença no acontecimento – quiçá em jeito de provocação – e contribuíram com ofertas no valor de quase 21 mil euros. O presidente prometeu ajuntar outros 23 mil mais um autocarro.
William Ruto, presidente desde 2022, ofereceu 600 mil xelins quenianos ao coro e ao Conselho Missionário da paróquia e dois milhões para a construção da residência paroquial. O governador Saraja Johnson doou 200 mil xelins ao coro e ao órgão missionário. O presidente prometeu juntar mais três milhões para a construção da residência e oferecer um autocarro à paróquia.
O arcebispo escreveu que as ofertas à paróquia de Soweto eram ilegais de acordo com a lei queniana e com as directivas da Conferência Episcopal. «Estes fundos serão reembolsados aos respectivos doadores [...] e o prometido [...] para a construção da casa dos padres bem como a doação de um autocarro para a paróquia pelo Presidente são, assim, recusados», sentenciou.
Dom Philip, remetendo para a declaração da KCCB, pediu aos altos dirigentes da nação que exerçam uma liderança política ética tratando dos assuntos urgentes que os bispos assinalaram: querelas políticas, corrupção, políticas de interesses pessoais, violações de direitos humanos e de liberdade de expressão, cultura de mentiras, promessas não cumpridas, prioridades deslocadas, agendas egoístas e taxação excessiva dos Quenianos.
O arcebispo sublinhou que a Igreja Católica desencoraja o uso de iniciativas eclesiais como a recolha de fundos e outros ajuntamentos como plataformas de autopromoção política. «Políticos são instados a abster-se de tornarem o púlpito um palco de retórica política, porque essas acções minam a santidade dos locais de culto», frisou. Políticos são bem-vindos na Igreja como cristãos comuns para alimentarem o espírito.
Esta não é a primeira vez que os bispos quenianos terçam armas com o poder político. Em Abril do ano passado, criticaram o Governo pelo aumento dos vistos de trabalho dos missionários de 15 mil para 150 mil xelins (de 113 para 1124 euros), acusando o poder político de falta de gratidão.
O texto do arcebispo causou um impacto enorme nas redes sociais. Em África não é comum um responsável católico recusar frontalmente as benesses do poder político. O seu acto profético merece registo.