Opinião
28 fevereiro 2025

O coração é um símbolo

Tempo de leitura: 4 min
O coração de Cristo põe-nos de novo em contacto em Ele e tudo o que ele ensinou e viveu.
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Diz uma antiga tradição que o apóstolo São João, quando já era velhinho, respondia sempre da mesma maneira aos cristãos que lhe pediam «João, conta-nos alguma coisa de novo sobre esse Jesus que conheceste!» A novidade que Jesus trouxe é o «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei», a certeza de que ele nos amou e a nossa capacidade de viver e espalhar esse amor à nossa volta. 

A última carta encíclica do Papa Francisco tem esse mesmo sabor: um velhinho que, depois de nos ensinar tanta coisa linda sobre o que significa seguir Jesus, nos vem lembrar o essencial: para conhecer e seguir Jesus, é preciso centrar-se no coração.

Logo no segundo parágrafo, Francisco diz que, neste caso, o coração é um símbolo. Todos lembramos que essa palavra – símbolo –
ficou na lembrança de todos, depois dos grandes eventos da JMJ do ano passado. Os símbolos da JMJ não eram um coração, mas uma cruz de madeira, já bem surrada de tanto andar de um continente para o outro, de uma JMJ para a outra, e uma pintura em madeira – ícone com a imagem de Maria, a mãe de Jesus. Porque todos lhes chamavam símbolos? Porque ao olhar para aquela cruz e aquela tábua pintada com a imagem de Maria, não víamos só esses dois objectos, vinha-nos logo à memória os milhões de jovens na praia de Copacabana, na JMJ do Brasil, ou a grande multidão que, anos antes, se reuniu na imensa planície à saída de Roma. Esses símbolos renovam em nós experiências, fazem vibrar o coração ao lembrarmos pessoas que encontramos, momentos que vivemos nesses dias extraordinários; e agora, ao ver esses símbolos a viajar de Lisboa para Roma e de lá partir para a Coreia do Sul, olhamos com esperança para daqui a dois ou três anos quando esses símbolos irão tocar o coração de tantos e tantos jovens asiáticos e não só.

Quando o Papa Francisco diz que o coração é símbolo do amor de Cristo, aponta para algo de semelhante. Muito mais do que um desenho ou uma imagem, o coração de Cristo põe-nos de novo em contacto em Ele e tudo o que ele ensinou e viveu com o seu primeiro grupo de amigos e que nós encontramos descrito nos Evangelhos. Mas isso não fica só como memória dos tempos antigos; o símbolo aponta para um coração que continuou sempre aberto a derramar amor e energia no coração de milhões de pessoas, no decorrer dos séculos. E esse coração-símbolo continua vivo hoje; ao contemplá-lo na intimidade dos nossos corações, sentimos essa mesma energia que transborda do coração de Cristo para o coração de cada um de nós, e a corrente de amor continua porque não pára em nós e vai transbordando silenciosamente para a vida daqueles com quem partilhamos o nosso caminho. 

Os símbolos da JMJ e do coração de Cristo são assim mesmo: reavivam a nossa comunhão vital com as origens, com a nascente  – a pessoa concreta de Jesus de Nazaré, fazem-nos participantes dessa imensa corrente de amor que percorreu os séculos até nós, e tornam-nos protagonistas que agora recebem e partilham esse amor sempre novo que jorra do Coração de Cristo.   

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Fevereiro 2025 - nº 754
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