Opinião
13 março 2025

Testemunhar a Boa Nova na Quaresma

Tempo de leitura: 3 min
A Quaresma é um tempo para contemplar a práxis histórica de Jesus e fazer da solidariedade, da partilha dos bens e do compromisso com a vida de todos o nosso programa de vida.
Bernardino Frutuoso
Director
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Vivemos o ano jubilar como peregrinos da esperança e, nesse contexto, vamos viver o tempo litúrgico da Quaresma – que começa no dia 5 de Março, Quarta-Feira de Cinzas.  Quando perguntaram a Jesus «porque é que os fariseus e os discípulos de João jejuavam e os teus discípulos não», Ele respondeu «porque não podeis jejuar enquanto estiverdes com o noivo nas bodas» (cf. Lc 5, 30-35). Com estas palavras, Jesus mostrou que o Reino de Deus estava a chegar e que a Sua presença tornava novas as práticas judaicas vigentes na época. 

Os discípulos missionários continuamos a viver neste tempo novo instaurado por Jesus. E neste caminho pessoal e comunitário de vida e esperança, que nos leva à grande festa da Ressurreição do Senhor, tempo favorável para a conversão pessoal e pastoral, movidos pelo poder transformativo do amor, estamos chamados a viver com mais intensidade os três meios que a Igreja nos aponta e que, como diz os Papa Francisco, «formam o nosso coração»: a oração, o jejum e a esmola. Práticas tradicionais que devem estar imbuídas dos valores do Reino de Deus e não do ritualismo em que tantas vezes caímos.

Intensificar a oração significa fortalecer a nossa relação com o «Deus de rosto profundamente terno», como referiu o Papa Francisco. Um Deus que nos liberta e ama a tal ponto que na oração do Pai-Nosso «Jesus nos ensinou a dirigir-lhe uma série de pedidos. A Deus podemos pedir tudo, tudo; explicar tudo, contar tudo. Não importa se no nosso relacionamento com Deus nos sentimos em falta. Ele continua a amar-nos».

O jejum é um caminho que introduz na nossa vida dinâmicas de sobriedade, ensinando-nos a viver do essencial. Nessa lógica, o jejum cristão não se limita a abster-se de certos alimentos. Na realidade, tal prática perde todo o sentido sem o horizonte da mortalidade que populações inteiras – nomeadamente, como informamos neste número da Além-Mar, no Sudão e na República Democrática do Congo – continuam a sofrer por terem fome. Não podemos «comer e beber» sendo indiferentes ao sofrimento dos nossos irmãos e irmãs. Jejuar significa, portanto, empenhar-se em encontrar os meios para garantir a satisfação das necessidades básicas de todos os seres humanos.

A esmola abre o nosso coração à condivisão. Mostra a nossa capacidade de partilhar tudo o que temos para que «ninguém na comunidade passe necessidade» (cf. Actos 4,34). Implica desprendimento, generosidade e entrega. Mas, acima de tudo, significa descobrir o valor da partilha em vez do entesouramento ou da segurança. Só dando podemos descobrir «a alegria de quem vende tudo para comprar o campo» (cf. Mt 13, 44-46).

A Quaresma é um tempo para contemplar a práxis histórica de Jesus e fazer da solidariedade, da partilha dos bens e do compromisso com a vida de todos o nosso programa de vida, pois como diz claramente o profeta Isaías, essas práticas quotidianas de justiça e amor constituem o jejum, a esmola e o sacrifício que o Senhor deseja (cf. Is 58, 6-7).   

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