A história de Bertin Tchoffo é tecida com as linhas que criam as tramas de milhões de vidas imigrantes que anualmente vêm a salto da África para a Europa desafiando desertos e mares à procura de dias melhores. Bertin nasceu nos Camarões e foi na França que tentou a sorte de uma vida próspera. Durante oito meses, o sonho foi mais pesadelo: dormiu ao relento e sobreviveu com trabalho precário. Entretanto, a vida compôs-se e começou uma empresa por conta própria. O negócio correu bem e, em 2012, decidiu voltar para casa e investir as economias nalguns terrenos e fundar a empresa Pafic Sarl para o cultivo e processamento da mandioca.
Hoje é dono de uma produção de 1300 hectares e de uma fábrica que processa 20 toneladas de mandioca por dia. Também investiu numa refinaria de óleo de palma que produz cosméticos e outros derivados e juntou-lhe uma fábrica de sabão e outra de engarrafamento de água mineral e de produção de sumos.
Entretanto, decidiu explorar o uso da farinha de mandioca na panificação com o objectivo de diminuir a importação da farinha de trigo. A Pafic abriu cinco padarias em Yaoundé, a capital dos Camarões, para vender pão e croissãs confeccionados com farinha de mandioca e projecta chegar à centena em todo o país. Também produz uma mistura de farinha de milho e mandioca para cozinhar.
Bertin – que emprega cerca de 500 pessoas e outras mil estão indirectamente relacionadas com as suas empresas – diz que o futuro da África passa pela mandioca. E tem razão. O arbusto, que os portugueses trouxeram da Amazónia brasileira no século xvi, dá-se em áreas afectadas pelas mudanças climáticas, não é exigente quanto à qualidade dos solos, resiste à seca e é de cultivo simples: basta limpar o espaço para a plantação, espetar varas da produção anterior e esperar cerca de um ano até que a raiz tuberosa esteja pronta debaixo da terra. E até pode ser colhida conforme as necessidades da cozinheira.
A mandioca é consumida cozida ou frita (como as batatas) e em farinha. Nalgumas partes, como na República Democrática do Congo – o segundo produtor africano depois da Nigéria – as folhas são usadas num esparregado saboroso temperado com óleo de amendoim. O tubérculo, rico em amido, também é usado no fabrico de rações, adubo, papel, cartão, tecidos, colas, remédios e biocombustíveis.
Dez por cento da população mundial alimentam-se de mandioca, produzida sobretudo por pequenos agricultores na África Subsariana, que anualmente põem no mercado global quase 200 milhões de toneladas, representando cerca de 63 por cento da produção mundial. É prato diário de mais de 500 milhões de africanos que consomem em média 100 quilos do tubérculo por ano.
Como não há bela sem senão, algumas variedades são tóxicas, mas uma cozedura prolongada resolve a questão. Algumas empresas estão a trabalhar o arbusto para eliminar a toxicidade e melhorar o valor nutritivo com novas variedades.