Os cristãos (ortodoxos e católicos) da Etiópia e Eritreia celebram a Festa de Meskel (Santa Cruz) com uma grande festividade a 27 de Setembro, ou 17 de Meskerem – segundo o calendário local, que começa a 1 de Meskerem (11 de Setembro – ou 12, se o ano for bissexto).
A festa, uma das celebrações mais importantes da liturgia cristã etíope e eritreia – juntamente com a Páscoa, Natividade e Baptismo do Senhor, a Assunção (ou Dormição) da Virgem Maria e o Ano Novo – marca a descoberta da cruz de Jesus feita por Santa Helena, mãe de Constantino, o imperador romano que deu cidadania ao Cristianismo.
O comboniano eritreu P.e Habtu Teclai explicou-me o significado desta festividade: «A festa de Meskel é uma das maiores festas da Igreja da Eritreia e da Etiópia. Depois de celebrar a Santa Missa as pessoas saem das igrejas para irem para um lugar público onde uma pira de lenha é preparada para a celebração. Sacerdotes e diáconos, vestidos com roupas litúrgicas, encabeçados pela Cruz, dirigem-se de todas as igrejas para o lugar público. Aí, rezam e abençoam o fogo e acendem a pilha de lenha preparada para a celebração. Esperam que a lenha consumida caia na direcção do leste, o que é um bom sinal para o ano que começa. Então as pessoas pegam em cinza e com ela fazem o sinal da cruz na testa.»
A celebração, que começa na véspera ao fim do dia, continua com os tradicionais comes e bebes e muita dança à mistura.
Em Adis-Abeba, a capital etíope, o lugar do fogo sagrado é Meskel Square, a Praça da Cruz, para onde convergem milhares de fiéis, velados por mantos brancos, juntamente com clérigos com os melhores paramentos de todas as igrejas da cidade para a grande celebração. Nos anos de sangue do comunismo, deram-lhe o novo nome de Praça da Revolução, mas quando o regime caiu, a praça voltou a chamar-se Meskel.
A cruz tem um lugar especial na identidade tanto de Etíopes como de Eritreus. É sinal de uma fé milenária e muito sofrida. Pode ser feita de prata ou mesmo ouro, ferro, bronze, cobre, latão, madeira, pedra, osso ou couro. Pode ser pintada ou bordada. É sempre muito estilizada e intricada, autênticas filigranas de entrelaçados geométricos harmoniosos que evocam a vida eterna. É usada nos brincos, anéis e ao pescoço. E tatuada na testa ou nos pulsos. As cruzes processionais são as mais vistosas pelo tamanho e pelo trabalho artístico. São decoradas com panos ricos e coloridos e levadas na ponta de uma vara por padres ou diáconos.
Os padres ortodoxos trazem sempre no bolso uma pequena cruz de madeira ou de metal para abençoar os fiéis com um gesto muito harmonioso: tocam com a cruz na testa de quem pede a bênção, que, por sua vez, a beija num movimento sincronizado e muito respeitoso. As cruzes de mão normalmente têm um quadrado na base que evoca a Arca da Aliança.
As cruzes etíopes provêm de três escolas artísticas relacionadas com as cidades de Aksum (a cidade santa onde os Etíopes juram ter a Arca da Aliança), Lalibela (famosa pelas onze igrejas escavadas na rocha) e Gondar (que foi capital da Etiópia iniciada pela engenharia militar portuguesa).
Uma cruz etíope é uma peça de arte linda, mas é sobretudo sinal da fé de um povo que aceitou Jesus Cristo como seu Senhor no século iv e tem-se-lhe mantido fiel ao longo dos tempos mesmo conturbados.
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