O rio descia das montanhas do Hermón, lá mais para o Norte, e entrava no lago um pouco acima da cidade de Tiberias. Ao sair em direção ao Sul, o Jordão continua a sua descida lenta até desaguar no Mar Morto. Um lugar especial deste rio que me ficou bem marcado na memória encontra-se logo depois de o rio sair do lago de Tiberias. Quando lá chegámos com o nosso pequeno grupo de peregrinos, na margem direita, à beira da água, estava um grupo grande de pessoas, alguns deles vestidos com túnicas brancas. A alguns metros da margem, já dentro da corrente, com a água pela cintura estava um senhor com uma túnica e uma estola de cor, e outro só com a túnica branca. Explicaram-nos que se tratava de uma cerimónia de Baptismo. Naquela comunidade cristã, se podiam, faziam o baptismo por imersão. E poder fazê-lo no mesmo rio onde Jesus se tinha baptizado era mesmo uma graça especial.
Depois de orações e cânticos, o ministro que tinha a estola tapou o nariz do outro com os dedos de uma mão, e com a outra mergulhou-o completamente nas águas do rio durante alguns segundos. Cá fora, todos cantavam com grande alegria. Quando saiu da água, não tinha um centímetro de pele que não estivesse molhado, e a sua túnica parecia uma esponja a escorrer água. Ao sair, por onde ele caminhava, o chão ficava logo molhado.
Foi mesmo um baptismo, um mergulho que o ensopou dos pés à cabeça.
Quando o Papa Francisco escolheu a frase «Baptizados e enviados» como lema para este mês missionário especial de Outubro, pensei nessa cena que presenciei em Israel, no rio Jordão.
A ideia que Francisco quer transmitir quando diz que os cristãos estão em missão no mundo porque são «baptizados e enviados» explica-se bem com aquele mergulho no rio: o nosso baptismo é um autêntico mergulho no Espírito Santo, nessa corrente caudalosa que é a vida de Deus. É mesmo como uma corrente de água que nos deixa “molhados até aos ossos”. Não fica “centímetro da nossa pele” que não tenha sido tocado por essa água que é a vida nova em que mergulhamos. E depois do baptismo, por onde quer que caminhemos a terra “fica molhada”, a vida nova que recebemos sai-nos de dentro e comunica-se por onde quer que andemos.
Assim, o sermos “enviados em missão no nosso mundo” não é só um trabalho que nos é entregue. Somos mais como uma esponja que foi embebida completamente em água e agora só pode partilhar com os outros a água que a enche completamente.
É por isso que quando se trata de comunicar a nossa fé cristã aos outros, o que mais conta é a presença. Quantas vezes ouvi pessoas a falar dos missionários e missionárias que lhes tinham levado a fé cristã e a dizerem coisas como «o que nos falava de Jesus não era tanto o que ela dizia, era a sua maneira de estar connosco, a sua presença», ou, «aquele missionário até sabia falar bem, mas o que mais lembramos dele era o tempo que passava connosco, quando ele nos vinha visitar era como se trouxesse sempre Jesus com ele». Eram pessoas “mergulhadas”, embebidas em Deus. E o melhor dom que ofereciam a todos era essa Presença de Deus que lhes enchia o coração.
A missão de levar Cristo ao nosso mundo afinal é bem simples, basta que sejamos mesmo baptizados – mergulhados em Deus.
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