Opinião
02 novembro 2019

Primavera missionária

Tempo de leitura: 4 min
O Sínodo Pan-Amazónico assume o compromisso pela Casa Comum e propõe uma Igreja com rosto amazónico, pobre e servidora, profética e samaritana.
Bernardino Frutuoso
Director
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Em Outubro, terminámos o Ano Missionário e, como baptizados, reafirmámos o nosso compromisso de ser missão no mundo. Foi com esses olhos e coração missionários que os participantes na assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a Amazónia, que se realizou no Vaticano, debateram os desafios actuais para a missão da Igreja nessa região do mundo. Na busca de caminhos novos para a evangelização nessa região, os participantes ouviram o grito dos pobres e identificaram no documento final as ameaças que pesam sobre os povos originários e o seu território: negação dos direitos humanos, sociais, culturais e económicos, exploração ilimitada da floresta segundo a lógica de um sistema económico predador e consumista.

No âmbito pastoral, três dos temas que marcaram o sínodo e a agenda público-mediática são apresentados no texto: a possibilidade da ordenação sacerdotal de homens casados idóneos e reconhecidos da comunidade, que tenham um diaconado permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiterado; o reconhecimento do papel e serviço ministerial da mulher, estabelecendo um ministério próprio de mulheres dirigentes de comunidades cristãs e estudando, inclusive, a hipótese do diaconado feminino; um rito litúrgico específico da Amazónia que expresse o património litúrgico, teológico, disciplinar e espiritual da região. 

O documento final faz um conjunto de propostas que traçam um roteiro para a reconfiguração da Igreja Católica naquela região do planeta e servirão como base para a exortação apostólica pós-sinodal que será publicada pelo Papa Francisco.

O Sínodo Pan-Amazónico, ao realizar-se em Roma, sinal visível de comunhão eclesial e da relevância universal do evento, possibilitou a concretização de um acontecimento particularmente significativo: a renovação e actualização do histórico Pacto das Catacumbas no contexto do compromisso eclesial com os povos amazónicos e a ecologia integral. Um grupo de participantes no sínodo celebraram a eucaristia na Catacumba de Santa Domitila, lugar que foi refúgio dos cristãos perseguidos e de martírio. Nessa basílica semienterrada, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos assinaram o «Pacto das Catacumbas pela Casa Comum, por uma Igreja com rosto amazónico, pobre e servidora, profética e samaritana». Um compromisso pessoal e eclesiológico-pastoral que se alicerça na práxis e no modelo eclesial do cristianismo primitivo, assume o «Pacto das Catacumbas por uma Igreja servidora e pobre» subscrito por um grupo de padres conciliares em 1964 e sintoniza com o desejo evangélico assumido pelo Papa Francisco de querer «uma Igreja pobre para os pobres». Assim, bebendo na fonte do Evangelho e da tradição eclesial, os signatários assumem quinze compromissos, entre os quais renovar nas suas Igrejas a opção preferencial pelos pobres, reconhecer e fazer crescer uma Igreja ministerial, que dá mais relevância aos dons e carismas das mulheres e mais protagonismo aos jovens. Ao mesmo tempo, com o objectivo de assumir acções concretas de defesa da Criação, propõem-se reduzir resíduos, não utilizar plásticos e optar pelo transporte público sempre que possível.

Voltar às catacumbas, periferias existenciais do Império Romano onde o Cristianismo primitivo floresceu, é a oportunidade para recuperar o sentido da Igreja comunidade missionária, que quer testemunhar e construir o Reino de Deus na história de hoje, na Amazónia e no Velho Continente.

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Editorial
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