Naquele primeiro domingo de Novembro, decidimos celebrar a missa mais cedo para podermos ir até lá para mostrar aos nossos entes queridos que já tinham partido que não os esquecíamos.
Para os membros da nossa comunidade, como para a quase totalidade dos outros povos africanos, os nossos antepassados são o canal pelo qual a vida continua a chegar cada dia, desde Deus até cada um de nós.
Assim, logo depois da missa, lá fomos até ao cemitério de Langata. Chegados ali, fomos rezar todos juntos a cada um dos lugares onde nos lembrávamos que estavam sepultados alguns dos nossos. Nada de rezar cada um por sua conta: nos momentos importantes da vida ninguém pode estar sozinho pois a vida de cada um é inseparável da vida dos outros. Quem vive isolado é como se estivesse já morto.
Rezámos pelos nossos cristãos falecidos, e depois também pelos protestantes falecidos que ali estavam e mesmo pelos membros de outras religiões pois, como explicava um dos catequistas ali presentes, «precisamos de olhar para a meta: mesmo se nesta vida percorremos muitos caminhos diferentes, ao fim, todos os nossos percursos vão ter a Deus». Muitos são os caminhos, várias as religiões, mas a meta é sempre Deus.
Na verdade, Deus não está longe daqueles que nesta vida não conhecem a Cristo como nós, e seguem outras religiões. Cristo, que veio para ser luz de todos os povos, guia-os também a eles, de maneiras que Deus conhece.
Num texto chamado A Missão de Cristo Redentor, o Papa São João Paulo II diz uma coisa bonita a este propósito: «Deus atrai a si todos os povos... Ele não deixa de Se tornar presente de tantos modos quer aos indivíduos quer aos povos, através das suas riquezas espirituais, das quais a principal e essencial expressão são as religiões» (RM 55).
Sendo assim, Deus torna-se presente na vida das pessoas e povos de outras religiões através dessas mesmas religiões. Certo, as maneiras de rezar são diferentes, as crenças religiosas parecem-nos às vezes quase o oposto daquilo em que nós acreditamos, mas Deus lá arranja maneira de chegar até eles e de tocar os seus corações com a Sua graça. De alguma maneira, podemos dizer que Deus vai guiando o caminho das religiões da humanidade para que, por caminhos mais direitos ou mais tortos, todos possam avançar para a mesma meta que é Deus.
Na eternidade, Deus que é Pai de todos e a todos ama com imenso amor, não deixará de acolher na sua morada todos os que o procuraram com coração sincero, seja qual for a religião que seguiram. Como dizia o catequista, é preciso olhar para a meta!
Especialmente no mês de Novembro, lembrar-se de que Deus é a meta comum de toda a humanidade pode ajudar-nos a olhar para o caminho das outras religiões vendo nos seus membros pessoas que caminham na nossa mesma direcção. Irmãos e irmãs que, por outros caminhos, procuram a nossa mesma meta.
Que bom seria se pudéssemos conhecer-nos um pouco mais para apreciar as riquezas espirituais que Deus já vai dando também aos membros da nossa família humana que seguem outras religiões. Seriam passos de fraternidade que certamente agradariam muito ao Deus que é a meta final de todos.
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