Opinião
13 dezembro 2019

Adeus malária?

Tempo de leitura: 4 min
A malária pode ser erradicada se houver boa vontade.
P. José Vieira
Missionário Comboniano
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Quando pensamos em animais perigosos, evocamos leões, leopardos, búfalos, hipopótamos, rinocerontes e afins. Contudo, o animal mais feroz é o minúsculo mosquito, responsável pela morte de 725 mil pessoas por ano através da transmissão por picada de doenças como a malária e a dengue.

A malária ameaça 3,4 mil milhões de pessoas em 97 países. A fêmea de cerca de 40 espécies do mosquito anófeles é o vector do parasita plasmódio que leva a malária de pessoas para pessoas por meio da sua picada. O parasita mais agressivo é o plasmódio falciparum, responsável pela maioria dos casos fatais da doença.

Em 2017, a Organização Mundial da Saúde reportou 219 milhões de episódios de malária em 87 países. Faleceram com a doença 435 mil pessoas, a maioria crianças com menos de cinco anos. A malária mata uma a cada dois minutos. Noventa por cento dos casos ocorrem em países africanos e quase três quartos dos episódios estão localizados em dez países a sul do deserto do Sara (Burquina Faso, Camarões, Gana, Mali, Moçambique, Níger, Nigéria, República Democrática do Congo, Tanzânia e Uganda) e na Índia.

Portugal teve malária endémica até 1950, sobretudo nas bacias dos rios Mondego, Sado e Águeda. O aquecimento global pode trazê-la de novo. Em português usamos duas palavras para designar a doença: malária (que vem do italiano e refere-se ao mau ar das águas paradas onde os mosquitos se multiplicam) e paludismo (do latim palude, paul ou pântano). Chama-se sezão (ou sezões) à febre provocada pela malária.

A malária atinge grandemente a economia dos países afectados, porque atinge a força de trabalho e gasta a fatia de leão dos orçamentos para a saúde.

Até 2000, o combate à malária esteve estagnado, porque é uma doença dos países pobres sem grandes recursos económicos. Na viragem do século, os casos de malária começaram a baixar significativamente devido ao financiamento de meios profilácticos. A Fundação Gates tem financiado a investigação. Em 2017, foram registados mais três milhões de casos que no ano anterior.

O combate à malária passa sobretudo pela prevenção. Dois meios importantes: a desinfecção de águas estagnadas com insecticidas (o DDT foi muito usado) e o uso das redes mosquiteiras para proteger as pessoas durante o sono (porque o anófeles é activo sobretudo ao anoitecer e de madrugada). Organizações não-governamentais têm distribuído milhões de redes tratadas com insecticida (que às vezes acabam na pesca).

O parasita tende a ganhar resistência às terapias. Por isso, as vacinas são uma linha fundamental no combate à malária. Neste momento, há organismos (incluindo portugueses) com trabalhos de investigação adiantados em relação a uma vintena de vacinas para prevenção da malária. Gana, Quénia e Maláui já estão a usar a RTS,S, a primeira vacina para crianças.

Outras soluções mais tecnológicas – como a da Microsoft – passam pelo uso de drones com armadilhas para apanhar mosquitos que, aliados à biologia molecular, podem detectar surtos de malária e actuar antes que o problema afecte a saúde pública.

Os odores são outra linha de investigação. Os mosquitos são atraídos pelo cheiro das pessoas afectadas pelo parasita, mas parecem detestar o odor das galinhas que podem ser um repelente natural dos mosquitos. 

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