A questão da Eutanásia volta a estar na mente dos portugueses. A argumentação para a sua legitimidade faz-me lembrar como vivemos uma crise cultural pautada por diversos défices relacionais, sendo este um dos maiores. Se, por um lado, queremos viver cada vez mais tempo, por outro, a incapacidade que temos de dar sentido e significado ao sofrimento, leva-nos a pensar que o melhor é terminar esse sofrimento, acabando com a nossa vida. Penso que isto seja um sintoma de um problema maior e mais amplo que a sociedade vive: a necessidade de gratificação instantânea.
O crescimento das redes sociais, como o Facebook ou o Twitter, proveio de serem aplicações desenhadas para explorar a expressão fisiológica do sentido de realização através da libertação de um neurotransmissor que todos produzimos: a dopamina. De cada vez que alguém reage a algo que partilhámos, o nosso cérebro liberta dopamina, mas o problema é que, tal como qualquer substância que nos faz sentir bem, a produção em excesso de dopamina torna-nos viciados, neste caso, em gratificações instantâneas. E somos levados a pensar que, se não puder ter o que quero ter agora, algo está errado e a vida não tem sentido.
A eutanásia é uma expressão de gratificação instantânea de quem se sente só e não é capaz de reconhecer o bem que os outros lhe possam fazer, ainda que leve tempo a entendê-lo. Para suscitar uma experiência diferente em relação ao sofrimento e à vida, seria preciso transformar o estilo de ser que pratica a gratificação instantânea, num estilo que pratica a gratidão perene.
Quantos de nós, perante as situações boas na vida, não temos a tendência de pensar qual a desgraça que virá a seguir? Quando a vida corre bem, desconfiamos. E quando a vida corre mal, o melhor é acabar com a vida. Há sabedoria em praticar a gratidão.
A prática da gratidão implica reconhecer o bem que os outros nos fazem e experimentar a alegria por si mesma, sem esperar nada. Os Actos dos Apóstolos relembravam que Jesus lhes dizia – «a felicidade está mais em dar do que em receber.» (Act 20, 35). Algo, particularmente, importante na prática da gratidão porque, ao contrário do que possamos pensar, quando estamos gratos e verbalizamos, sentimo-nos mais felizes e alegres.
Ainda que seja contraintuitivo, ou difícil perante as dores, e o sofrimento que vivemos, praticar a gratidão altera a nossa predisposição fisiológica e mental de viver. O sorriso despertado no outro por um simples “obrigado” faz-nos experimentar como o sentido das nossas vidas está interligado.
O ser humano não tem asas, mas criou formas de voar. Não é o ser mais rápido do planeta, mas encontrou formas de vencer a barreira do som. Ser humano significa ir além daquilo que não somos capazes e criar as condições de nos superarmos a nós mesmos. A eutanásia é um sinal de derrota, quando, pela prática da gratidão, poderia ajudar a aliviar e superar qualquer sofrimento.