Tão depressa me parece óbvio que tudo passará, como me sinto assoberbada com tudo o que está a acontecer.
Tão depressa consigo consolar os outros e dizer coisas razoáveis, como me sinto a fazer uma birra imensa e a bater com os pés em todo o lado.
Não me conformo. Não me conformo com o que nos está a acontecer a todos. Não me conformo com as vezes em que me esqueci de olhar melhor para o céu e para o Sol de cada dia. Não me conformo com as vezes em que assumi que veria aquela pessoa no dia seguinte. No segundo seguinte. No momento seguinte.
Não me conformo com as vezes em que reclamei por ter de sair de casa cedo e sentir demasiado frio. Não me conformo com as vezes em que me queixei pelo calor que fazia lá fora e pelo cansaço a que o corpo parecia ceder. Não me conformo com o facto de ter acreditado tantas vezes que tudo era garantido. Jantar fora quando quisesse. Ir ao café. Beber um copo de vinho ao pôr do Sol. Abraçar os amigos. Rir sem ter medo de me aproximar deles. Passear na rua e não prestar atenção a nada nem à falta que passear na rua me poderia fazer. Ir ao centro comercial e parar nas lojas preferidas ou não parar em nenhuma e comer, apenas, um gelado. Fazia tudo sem ter medo. Fazíamos tudo sem ter medo e sem pensar e não sabíamos que éramos profundamente felizes. Nunca sabemos. Nunca percebemos as coisas até que as mesmas nos fogem para uma dimensão que fica aquém do alcance das nossas mãos e dos nossos braços.
Não me conformo e preciso de me conformar. Não nos conformamos e precisamos de o fazer. De aceitar. De embalar a revolta até a fazer adormecer e depois soprá-la para longe. Precisamos de respirar fundo e olhar em frente, mesmo que pareça insuportável ou verdadeiramente difícil.
Como diria Chiara Petrillo: «Apenas vivendo o hoje é possível enfrentar a vida.»
É isso que nos cabe agora como missão: viver o hoje para enfrentar o que virá amanhã. O amanhã mora já ali e há-de ser profundamente melhor e mais feliz. Vais ver.
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