Estamos a viver tempos dramáticos de dor, provação e adaptação quotidiana devido às rápidas e desafiantes mudanças causadas pelo novo coronavírus. Entretanto, emergem múltiplas análises, reflexões e prognósticos sobre as repercussões da pandemia na vida dos indivíduos, organizações e instituições. Alguns dizem que a covid-19 pode ser uma vacina da Humanidade para uma visão colectiva do planeta. Outros afirmam que a crise é um «acelerador de futuros», que apressou mudanças que já eram necessárias, nomeadamente o minimalismo, a apropriação e literacia digital, o teletrabalho ou a educação virtual. Ainda há quem assinale que esta pandemia dará origem a novas ordens sociais, incluindo um renascimento digital e uma economia baseada em dados.
O Papa Francisco, líder moral inquestionável, continua a dar contributos profundos para um renascimento nesta nova era. Pela primeira vez no seu pontificado, escreveu um texto na revista Vida Nueva. Enquadra-se neste tempo pascal e propõe, da perspectiva da lógica evangélica, um plano para ressuscitar a Humanidade.
O pontífice comprova que com esta pandemia aprendemos que «ninguém se salva sozinho» e que «as fronteiras caem, os muros derrubam-se e todos os discursos integristas se dissolvem, perante uma presença quase imperceptível que manifesta a fragilidade de que somos feitos».
E, com a certeza de que é importante que façamos perguntas a nós próprios, as reflictamos e debatamos com criatividade, Francisco questiona: «Seremos capazes de actuar com responsabilidade diante da fome que muitos sofrem, sabendo que temos alimentos para todos? Continuaremos a olhar para o outro lado com um silêncio cúmplice diante destas guerras fomentadas por desejos de domínio e de poder? Estaremos dispostos a mudar os estilos de vida que mergulham tantos na pobreza, promovendo e animando-nos a levar uma vida mais austera e humana que possibilite uma divisão equitativa dos recursos? Adoptaremos como comunidade internacional as medidas necessárias para deter a devastação do meio ambiente ou continuaremos a negar a evidência?»
Sabemos que há grandes diferenças nas condições e meios que temos para enfrentar e superar a pandemia, sendo os pobres os mais afectados – por exemplo, o Programa Alimentar Mundial da Organização das Nações Unidas alerta que a covid-19 pode fazer duplicar o número de pessoas que passam fome no mundo. Assim, Francisco ressalta que é indispensável unir a família humana numa resposta comum aos problemas e recorrer aos «anticorpos da justiça, da caridade e da solidariedade». «Não tenhamos medo de viver a alternativa da civilização do amor, que é uma civilização da esperança: contra a angústia e o medo, a tristeza e o desalento, a passividade e o cansaço. A civilização do amor constrói-se no dia-a-dia, de modo ininterrupto. Pressupõe o esforço comprometido de todos», conclui o Santo Padre.
Os discípulos missionários de Jesus, como recordou o Papa Francisco, estamos chamados «a redescobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor». Somos convidados a enfrentar esta nova era, complexa e desafiante, com a força da fé, da esperança e do amor. Esta é uma oportunidade para desenhar um mundo melhor para todos. Podemos optar pelo caminho da justiça, da unidade e da solidariedade, que será uma vitória contra todas as epidemias, ou continuar a construir muros de marginalização e a globalizar a indiferença.
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Nestes tempos da covid-19, pedem-nos que fiquemos em casa para nos protegermos, cuidar de nós e dos nossos e ser solidários com a comunidade. Os Missionários Combonianos e as revistas Além-Mar e Audácia querem contribuir para que passe este período da melhor forma possível e, por isso, enquanto durar a quarentena, decidimos tornar de leitura livre todos os conteúdos das nossas publicações missionárias.