Opinião
15 agosto 2020

Caminhar com os profetas

Tempo de leitura: 3 min
A mensagem desses profetas e os gestos que usavam para comunicar a palavra de Deus, eram a maneira concreta de Deus “falar” com o seu povo.
P. Fernando Domingues
Missionário Comboniano
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Enquanto caminhavam juntos de Jerusalém para Emaús, o terceiro peregrino (Jesus) abriu-lhes o entendimento para poderem ver como os antigos profetas da tradição religiosa de Israel «já falavam de Cristo» (Lc 24,27).

Esta abertura do entendimento, compreendemos bem, é já sinal de que o Espírito Santo entrou em acção! Nos anos a seguir, o mesmo Espírito Santo vai continuar a agir na vida e na inteligência das primeiras comunidades de discípulos para os ajudar a lembrar e entender tudo o que Jesus tinha dito e feito.

É com a ajuda do Espírito que, a partir de agora, eles vão ler de novo a História e as palavras do Jesus terreno, enquanto caminham juntos e conversam com o mesmo Jesus, agora ressuscitado.

Digamos já com clareza: não é que os profetas antigos, como Ezequiel ou Oseias, se tinham posto a adivinhar detalhes da vida futura de Jesus. Seria quase ridículo, e inútil. Eles não eram videntes com poderes mágicos para conhecer o futuro!

A verdade é que a mensagem desses profetas dos séculos passados e os gestos que usavam para comunicar a palavra de Deus, adaptando-se sempre às situações concretas que o povo ia vivendo, eram a maneira concreta de Deus “falar” com o seu povo.

Assim, por exemplo, através das palavras de Oseias, e até por meio dos acontecimentos da sua vida pessoal, e dos problemas sérios que teve com a sua mulher (cf. Os 2-3), Deus foi já manifestando aquele coração de amor e misericórdia de que Jesus, séculos mais tarde, ia gostar tanto de falar.

Ou ainda, aquela visão do vale semeado de ossos ressequidos, de que fala o profeta Ezequiel (cf. Ez 37), diz-nos como Deus via os efeitos devastadores que a injustiça e a infidelidade do povo traziam a Israel. É o mesmo coração preocupado de Deus que fala em Jesus, quando ele convida o seu povo à conversão urgente para evitar a própria destruição (cf. Lc 13,1-5).

Em Jesus, os discípulos – nós – não se limitam a reconhecer só que a Palavra antiga de Deus está agora presente a falar-nos na pessoa concreta de Jesus de Nazaré. Na verdade, lembrando a “Palavra Antiga” de Deus (o Antigo Testamento), e caminhando em companhia da “Palavra Nova” do mesmo Deus (Jesus ressuscitado), nós aprendemos também o vocabulário e a linguagem que Deus usa para falar connosco e que nós podemos usar para falar com Ele. Nas palavras, gestos e atitudes de Jesus, nós descobrimos como Deus gosta de falar connosco e o que gosta de nos dizer; e aprendemos também como podemos falar com Ele: quando quiserdes rezar dizei: «Pai Nosso...». E mais ainda: aprendemos também uma nova linguagem e o vocabulário para falar e viver uns com os outros: «Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei», «como eu vos fiz, fazei vós também» (cf. Jo 13,34; Rm 12,10).

Caminhando juntos à escuta de Jesus, os discípulos recuperam a Palavra antiga (AT) como instrumento precioso para poderem ir entendendo pouco a pouco o que significa, concretamente, caminhar com Jesus ao longo dos vários percursos da vida que vão vivendo.  

 

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