Os três caminhantes – assim nos diz São Lucas – chegaram a Emaús já ao cair da noite. Quase para os pôr à prova, o terceiro peregrino fez de conta que ia mais adiante, mas os dois insistiram com ele: «Fica connosco!»
Certamente eles já tinham quem ali os acolhia, e sabiam bem o que significa chegar ao fim de um dia de caminho e entrar numa casa onde há rostos amigos que te dizem: «Bem-vindo!»
Acolher é uma forma de vida, quem se sente acolhido, gosta de acolher os outros. E assim se vão ajuntando sempre novos elos à cadeia de fraternidade.
Quanto mais acolhemos e somos acolhidos, mais descobrimos o enorme potencial de fraternidade que pode encerrar até o mais pequeno gesto de acolhimento.
Um dia, chegou à minha comunidade um colega que eu ainda não conhecia pessoalmente, mas alguém me tinha dito que ele acabava de sair de uma experiência de vida missionário muito, muito dura. Parecia exausto. O primeiro dia foi para ele dormir, finalmente, num ambiente tranquilo. No dia a seguir, contente de ter um companheiro para uma boa piza, convidei-o, e lá fomos a um daqueles locais onde nos podemos sentar a uma mesa a poucos metros da boca do forno a lenha, de onde saem as pizas acabadas de cozer.
O episódio já se me tinha quase varrido da memória, quando ele passou de novo por lá, uns bons anos mais tarde, e me lembrou aquela piza. Para ele, aquele pequeno gesto de um colega quase desconhecido tinha sido como um bálsamo para as feridas que trazia na alma, mais do que no corpo cansado.
Ficámos anos sem nos encontrarmos de novo, mas, cada um na parte do mundo onde é enviado, continuamos a viver na certeza de que às vezes, para grandes males, pequenos remédios chegam muito bem.
«Fica connosco». Estas duas palavras que marcaram o gesto de acolhimento daqueles dois de Emaús para com o terceiro peregrino apontam para milhares de outros momentos semelhantes, nos quais um simples gesto de acolhimento bastou para ajudar um irmão, uma irmã a recomeçar o seu caminhar na vida.
Nós mesmos, povo de navegadores no passado, e hoje povo profundamente marcado e enriquecido pela imigração, sabemos bem o que é chegar a uma terra estrangeira e encontrar gente que nos acolhe e nos oferece novas possibilidades de trabalho e de vida.
Mas o «viver acolhendo» pode ir ainda mais longe: o velho patriarca Abraão, que pensava só oferecer aos três viandantes que passavam pela frente da sua tenda uma sombra para descansar, água para lavar os pés e um naco de pão com um pouco de carne assada, na verdade acolhia o próprio Deus que vinha oferecer-lhe a possibilidade de se tornar o pai de um povo inteiro (Génesis 18). E os dois discípulos de Emaús só mais tarde descobriram que tinham acolhido em casa o próprio Jesus ressuscitado.
E o acolhimento não acaba neste mundo. Um místico muçulmano do século xii gostava de dizer que «quanto mais acolhermos a Deus em nossa casa nesta vida, mais Ele nos acolherá na sua casa na vida eterna».
O segredo está em fazermos da nossa vida um contínuo «fica connosco, Senhor», e vermos a Sua presença no rosto de cada irmão e irmã que cruzam o nosso caminho.
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