A província de Cabo Delgado, em Moçambique, enfrenta há três anos uma guerra que desencadeou um verdadeiro drama humano para a sua população (estimada em cerca de 2 340 000 habitantes).
Os ataques tiveram início nas aldeias recônditas, passaram para as aldeias maiores, depois às estradas, até chegarem às cidades. As aldeias começaram a esvaziar-se e atingiram as cidades. Dos 17 distritos da província, nove deles estão a sofrer com os horrores desta guerra. Os outros foram atingidos porque acolhem os milhares de deslocados. As províncias vizinhas de Nampula e Niassa e até as províncias do Centro do país também acolhem os deslocados, que já passam a barreira do meio milhão. Os mortos ultrapassam os 2000.
Os estudiosos apontam várias motivações para esta guerra: extremismo religioso, ambição pelos recursos naturais da província (gás, petróleo, rubis, ouro, grafite, madeira, mármore, pedras semipreciosas, entre outros), rivalidade entre etnias, pobreza extrema por falta de investimento em políticas públicas com impacto na juventude, clivagens entre grupos políticos, tráfico de drogas. Todos eles são um combustível incendiário para esta guerra. O maior deles, sem dúvida, está ligado aos recursos naturais, portanto, de cariz económico.
As perguntas avassaladoras são muitas e são feitas por muita gente que reflecte acerca desta guerra e também por aqueles que estão a sofrer as suas consequências: Quem a financia? Quem lucra com ela? Ela serve que interesses? O que está na sua origem? Qual a sua raiz ou a sua causa?
O Papa Francisco, no dia da Páscoa de 2020, chamou «crise humana» ao que se estava a viver em Cabo Delgado. A sua palavra trouxe para a agenda internacional a guerra e a crise humana que esta causa.
A Igreja em Cabo Delgado (diocese de Pemba) teve de reinventar-se a partir do início desta guerra, passando pelo ciclone Kenneth e pela pandemia covid-19: igrejas foram queimadas ou destruídas, lideranças comunitárias foram mortas, os missionários e missionárias tiveram de deixar as suas missões e paróquias nos distritos atingidos, escolas foram encerradas. Todos os recursos disponibilizados pelas pessoas, grupos, organizações, congregações, governos, parceiros em geral têm sido canalizados para atender os deslocados acolhidos nas famílias, nos acampamentos e nos actuais assentamentos. A nossa maior preocupação é o esgotamento desses recursos.
Os deslocados não são números. São pessoas, têm rosto, têm família, têm história, têm a sua cultura, sofreram traumas e dramas, têm medo, estão inseguros. Por isso, a Igreja Católica iniciou um importante trabalho de apoio psicossocial. As situações mais graves são encaminhadas para as psicólogas para serem dados os devidos atendimentos ou encaminhamentos.
Há várias iniciativas para apoiar a este povo. Não nos cansemos de combater a indiferença. Os problemas dos outros, os sofrimentos dos outros também são meus! Reze, seja solidário. Juntos por Cabo Delgado!
(Publicação conjunta da MissãoPress)