Um dia, ao cair da noite, eu estava de visita àquela pequena comunidade cristã – uma das noventa e tal da nossa paróquia. Éramos umas dez pessoas, sentadas na rua, à frente da casa de um dos membros. As casas naquela periferia muito pobre têm, na sua maioria, só uma pequena divisão, onde a família tem as suas coisas e dorme. A comida prepara-se à frente da porta de casa. Estávamos para começar o nosso encontro semanal em que se lê a Palavra de Deus, se reza juntos e se organizam os serviços na comunidade, quando chegou uma vizinha. Pediu se podia sentar-se connosco. «Moro à beira da mesquita e vou lá às vezes. Acho que acredito em Deus, mas não sei nada sobre Ele. Tenho-vos visto aqui a rezar, à quarta-feira à noite, posso?»
Para ela, aquela hora sentada a escutar-nos numa quarta-feira à noite foi o início de uma longa caminhada...
Acreditar em Deus começa sempre de maneira semelhante. Ouço alguém e sinto que ali há alguma coisa de importante para mim, como se fosse um convite para me lançar numa nova caminhada.
É como a história que sempre gostamos de ouvir de novo, cada ano pelo Natal, sobre aqueles pastores que dormiam ao relento, a cuidar do rebanho das famílias de Belém, e que a um certo momento ouviram música celestial, e uma voz a dizer-lhes: «Anuncio-vos uma grande notícia. Hoje nasceu para vós um salvador. Ide, encontrareis um menino recém-nascido» (cf. Lc 2). Eles lá foram, e encontraram o pequenino Jesus, apenas nascido, aconchegado numa manjedoura, e Maria e José, acolhidos na gruta que muitas casas de Belém tinham logo atrás, ou ao lado.
Para muitas pessoas, ainda hoje, encontrar Jesus menino no presépio é o primeiro passo de descoberta que vai durar a vida inteira. Encontrar a Deus que se faz menino faz-nos dizer como aquela vizinha da pequena comunidade cristã que rezava à noite: acho que acredito em Deus, mas não sei nada sobre ele. O Menino no presépio é um convite a começar de novo à procura do verdadeiro rosto de Deus. Um rosto tantas vezes escondido pela pompa de certos edifícios religiosos e pelo luxo de certas celebrações... Aquele Menino que ainda não sabe falar fala-nos já de Deus de maneira nova, e sentimos vontade de conhecer o resto da sua vida, onde cresceu, e se mais tarde chegou a ensinar, o que é que as suas palavras e a sua maneira de viver nos dizem sobre Deus. E, começando a ler o Evangelho a partir daquela manjedoura de Belém, e sem nunca a perder de vista, vamos descobrindo um rosto de Deus que é novo e nos fascina cada vez mais.
Conforme avança o nosso encontro com esse menino de Belém, e com o jovem Jesus que cresceu mais a norte, em Nazaré, e escutando o ensinamento do homem Jesus quando foi viver com os seus discípulos para Cafarnaum, à beira do lago, damos conta que já não se trata só de “saber coisas sobre Deus”, e começamos a sentir o convite a viver com ele e como ele. A fé dos cristãos nasce, assim, de um encontro que nos faz passar do saber ao viver. Outras pessoas podem ajudar-nos, mas, afinal, é o encontro e o caminho com Jesus que trazem vida nova à nossa vida e nos fazem dizer «acredito».