Recentemente li, mais uma vez, que a ideia do “crescimento económico” é insustentável, mas raramente vejo essa afirmação acompanhada de uma alternativa. As expressões ou chavões não deveriam ser importantes na formação das consciências, mas a realidade é que o são. Por isso, pensei se não haveria uma alternativa a “crescimento económico” que fosse compatível com uma visão do mundo mais sustentável e que estimulasse a experiência da paz entre os povos. Ocorreu-me uma — o ”amadurecimento económico”.
A economia não está isenta da profundidade de conceitos como os ligados à conservação de energia. Por isso, para que haja crescimento económico de uns, outros terão de sofrer as consequências da escassez que essa filosofia induz. Pois, o planeta não é infinito nos recursos que dispõe. Por outro lado, centrar o esforço das pessoas na procura incessante de crescimento económico, foca-as no aspecto materialista do sentido evolutivo da narrativa humana no seio da narrativa cósmica, o que empobrece a nossa espécie do sentido e significado que tem sermos a natureza consciente de si mesma. Existimos para muito mais do que isso. Por isso, importa pensar em melhor em vez de mais, e talvez como o vinho, o melhor é aquele que leva mais tempo para poder amadurecer.
Pensar no amadurecimento como alternativa ao crescimento económico, implica avaliar, também, a possibilidade de existirem mais alternativas, e uma poderia ser a do equilíbrio económico. Mas essa não é culturalmente viável. Vejamos.
As grandes empresas do mundo vêem-se pressionadas, anualmente, pelos accionistas, para demonstrar que o crescimento económico da empresa onde investiram o seu dinheiro acontece, mas há limites. As empresas não podem prever crises como a Covid-19 que afectou drasticamente a indústria da aviação, mas fez florescer outras indústrias, como as da video-conferência e do transporte de encomendas, que nos obrigou a rever os nossos estilos de vida, viajando menos e desenvolvendo a economia digital. Mas, diante desses equilíbrios dinâmicos da economia, é insustentável querer estar sempre a crescer, porque todo o sistema que transforma, produz o que em Termodinâmica se designa por irreversibilidades. Isto é, há sempre algo que se perde quando transformamos. Poderíamos, por isso, pensar que, em vez de “crescimento económico” seria mais adequado o “equilíbrio económico”.
Antes de mudar para a área das ciências, fiz o 10º ano na área da Economia, e num trabalho em que procurava soluções para acabar com a pobreza no mundo, eliminando a ideia de países de terceiro mundo, ou, sistematicamente, em vias de desenvolvimento, a minha professora de Economia disse — «As vossas ideias, Miguel, são nobres. Mas, para deixar de haver países pobres, teria de deixar de haver países ricos.» Nunca mais esqueci esta observação. Enquanto vivermos esta dicotomia entre países centrada na sua riqueza ou pobreza, dificilmente poderemos ser aquilo que somos chamados a ser no próximo passo evolutivo da espécie humana (que não me atrevo a adivinhar qual seja, mas apenas a assumir que existe). O “equilílibro económico” implicaria acabar com a ideia do “rico”, pelo que, talvez não seja a melhor alternativa a “crescimento económico.”
O ”amadurecimento económico” procuraria avaliar o que é essencial, pautando as nossas escolhas pela sobriedade, e desenvolver os caminhos difíceis, mas que garantam o nosso futuro. Ter as necessidades energéticas de um país totalmente supridas por fontes renováveis de energia, é tão grandioso ou mais do que esforçarmo-nos para voltar à Lua ou ir, pela primeira vez, a Marte. Aliás, o que aprenderíamos com a experiência de percorrer o caminho difícil, talvez facilitasse esse tipo de objectivos por uma razão simples: a criação do hábito de trabalharmos juntos para o mesmo fim.
Numa cultura do amadurecimento económico, não há lugar para a dicotomia entre países ricos e pobres, mas países mais ou menos sóbrios. O caminho da sobriedade é difícil, mas leva toda a pessoa a amadurecer e a crescer, sim, em sabedoria. O amadurecimento económico é um retorno daquilo que nos motiva a agir aos valores e esse é, também, um caminho difícil. Pois, nem todos damos valor ao mesmo, pelo que o diálogo, onde cada um se enriquece com a diferença do outro, acaba por se revelar a chave que permite realizar esse caminho.
Não sendo economista poderão descartar esta opinião como utópica e, eventualmente, sem fundamentos realistas num mundo, já de si, bastante complexo. Mas o propósito de uma ideia partilhada é semelhante ao lançamento de uma semente, esperando que encontre condições no coração-terra de algum leitor que se sinta chamado a deixar florescer o modo como concretizar tal ideia.
A emergência climática liga a sustentabilidade dos povos à economia que os sustenta, e se não agirmos agora por um amadurecimento económico, poderá ser tarde de mais. Tudo dependerá das escolhas pessoais, comunitárias e globais. Está na altura de pensares no próximo passo que podes dar.
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