Em Janeiro, vimos nos meios de comunicação imagens de um hospital no Egipto. Faltou a electricidade e os doentes faleciam sem oxigénio. Dias depois, em Manaus, no Brasil, os hospitais colapsam devido à nova vaga da pandemia. Faltava o oxigénio e os pacientes não resistiam.
Estes episódios expressam a vulnerabilidade da vida humana e a grande onda de impotência e sofrimento que nos atinge globalmente. Como recorda o Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial do Doente, a pandemia «colocou em evidência tantas insuficiências dos sistemas sanitários e carências na assistência às pessoas doentes. Viu-se que, aos idosos, aos mais frágeis e vulneráveis, nem sempre é garantido o acesso aos cuidados médicos, ou não o é sempre de forma equitativa».
A propósito dessas desigualdades no acesso à saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou a 18 de Janeiro que mais de 39 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 foram já administradas, em 49 países de altos rendimentos. Mas deu a conhecer também um dado vergonhoso: apenas 25 doses foram dadas num país de baixos rendimentos. «O mundo está à beira de uma catástrofe moral», afirmou Tedros Ghebreyesus, director-geral da OMS. Efectivamente, como tem lembrado Francisco, estamos no mesmo barco, na mesma tempestade, e necessitamos de enfrentar esta crise todos juntos, sem nacionalismos e considerando as vacinas um bem público global; mas, entretanto, os países ricos, com capacidade financeira para firmarem contratos com as grandes farmacêuticas, já compraram mais doses do que o número de habitantes da Terra e estima-se que os mais pobres podem ficar sem vacinas até 2024, o que tornará a situação de vulnerabilidade mundial ainda pior.
Por outro lado, o papa lembra que a pandemia também está a dar visibilidade «à dedicação e generosidade de profissionais de saúde, voluntários, trabalhadores e trabalhadoras, sacerdotes, religiosos e religiosas… Uma série silenciosa de homens e mulheres que optaram por fixar aqueles rostos [dos doentes], ocupando-se das feridas de pacientes que sentiam como próximos em virtude da pertença comum à família humana». E recorda que «uma sociedade é tanto mais humana quanto melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com uma eficiência animada por amor fraterno».
O pontífice sublinha que «a proximidade é um bálsamo precioso, que dá apoio e consolação a quem sofre na doença», apesar de vivermos tempos em que se activam protocolos de biossegurança e se impõem medidas sanitárias como o distanciamento físico e o confinamento. E, lembra Francisco, os cristãos «vivemos esta proximidade pessoalmente, mas também de forma comunitária: na realidade, o amor fraterno em Cristo gera uma comunidade capaz de curar, que não abandona ninguém, que inclui e acolhe sobretudo os mais frágeis».
Os discípulos de Jesus estamos chamados, portanto, a ser missão neste momento histórico e a construir uma Igreja samaritana, capaz de configurar novas formas de proximidade e amor social e zelando para que «ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e abandonado».
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