Jesus gostava de passar certos momentos sozinho, mas nunca foi um solitário. O evangelho de Marcos conta que depois de ter saciado a fome a uma multidão, com doze cestos de pão e de peixe, ele sentiu necessidade de se retirar para a montanha, onde passou a noite em oração, mas logo depois retomou o caminho com um grupo dos seus discípulos (cf. Mc 6). É assim que ele recebe luz para saber como continuar o seu caminho com aqueles que vão aceitando a sua proposta de vida nova.
Da maneira como Jesus passou a sua juventude, sabemos pouco. Quase decerto passou uns bons anos na sua aldeia natal de Nazaré. Com José, aprendeu a sua profissão, e viveu numa família bastante grande. A isso alude Marcos no seu evangelho (Mc 6,3) contando como os seus conterrâneos de Nazaré reagiram, quando ele por lá passou, já durante a sua vida de pregador itinerante. Diziam, surpreendidos: «Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?» A experiência de ter crescido numa família grande certamente deixou nele esse gosto de viver e trabalhar sempre partilhando o seu caminho com outros.
Conhecemos bem a sua vida a partir dos cerca de 30 anos de idade, quando se encontra com o profeta João, no deserto da Galileia. Ele convidava as pessoas a deixar o mal e a «produzir bons frutos». Também Jesus participou no gesto que João convidava a fazer: ir à margem oriental do rio Jordão (última etapa do caminho do antigo povo de Israel, quando saiu da escravidão do Egipto), mergulhar na água (gesto de purificação) e passar para a margem ocidental, ali mesmo na frente de Jericó, onde o antigo povo tinha entrado na terra da liberdade que Deus tinha prometido ao antepassado Abraão. Foi nesse dia, ao sair do rio, que Jesus ouviu a voz de Deus: «Tu és o meu filho muito amado.» E a partir daí começou a sua própria missão de pregador, anunciando o que ele gostava de chamar o Reino de Deus.
João, o austero profeta do deserto da Galileia, ameaçava com os castigos de Deus (o machado já está pronto para cortar a árvore que não dê frutos!). Jesus sente que a verdade é outra: Deus já está presente e reina no coração daqueles que o acolhem. «O Reino de Deus está no meio de vós» (Mc 1,14-15), como Jesus gostava de dizer. E a Sua presença não é para ameaçar e castigar os maus e recompensar os bons. Deus prefere oferecer perdão e misericórdia a todos. Será esse perdão que vai levar as pessoas a mudar de vida: «Aquele a quem muito foi perdoado mostra muito amor» (cf. Lc 7,36-50).
Logo desde o início, para descobrir esta presença do Reino de Deus e colaborar com ele na sua missão de o anunciar a todos, Jesus não convida indivíduos solitários, prefere convidar grupos de amigos (Mc 16-19). E mais tarde, quando decide enviá-los à sua frente pelas povoações que ele queria visitar, envia-os dois a dois.
Viver no Reino de Deus e partilhá-lo com os outros é coisa que ninguém pode fazer sozinho. No entender de Jesus, a experiência da fraternidade é indispensável seja para acolher essa presença de Deus, seja para o anunciar aos outros.
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