Concluímos neste mês de Maio o ano especial dedicado à Laudato Si’, a encíclica social e ecológica assinada pelo Papa Francisco a 24 de Maio de 2015. A iniciativa teve como objectivo estimular os cidadãos do mundo a uma conversão e acção ecológicas, favorecendo uma transformação social radical. Ao longo deste ano, famílias, dioceses e paróquias, escolas, universidades, institutos religiosos e tantas outras organizações e instituições elaboraram planos para salvaguardar o ambiente e preservar os seus recursos naturais para as gerações presentes e futuras.
Para responder à crise ecológica, muitas pessoas começaram a assumir um estilo de vida mais simples, com consumo responsável e em harmonia com a Mãe Terra. Há empresas que enveredaram por lógicas de «economia ecológica», nomeadamente, a produção sustentável, o comércio justo, o uso de energias renováveis e a redução da poluição.
Perante esta emergência global, os governos começam também a dar sinais de acção, ainda que pouco ousados, e a adoptar políticas que respondam ao desafio da crise climática. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, anunciou a redução para metade das emissões de gases com efeito de estufa até 2030, tendo como referência os valores do ano de 2005. A União Europeia comprometeu-se a reduzir as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera em 55% até 2030, mas tendo 1990 como ano de referência. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que «a Europa quer ser o primeiro continente neutral quanto ao carbono, mas precisamos de salvar o mundo».
Seis anos depois, percebemos que o texto profético da Laudato Si’ é cada vez mais relevante e tem uma grande incidência geopolítica, contribuindo para a reflexão e a mudança socioambiental. É que, na linha da ecologia integral proposta pelo texto pontifício, a comunidade internacional tem de adoptar medidas que travem a devastação ambiental. Até os mais cépticos e negacionistas em relação às alterações climáticas observam que os gelos polares continuam a derreter; a Amazónia, pulmão verde da Humanidade, continua a ser devastada sem limites (ver páginas 16-23); os fenómenos extremos, como secas, tempestades e fogos florestais, são cada vez mais comuns; a perda de biodiversidade alcança números sem precedentes. As Nações Unidas afirmam num recente relatório que cerca de 90% de espécies de mangais e outros ecossistemas costeiros e marinhos, bem como mais de 30% das espécies de aves marinhas, enfrentam ameaça de extinção.
O último ano, marcado pela pandemia, evidenciou que o grito da Terra e o grito dos pobres estão interligados, como lembra o Papa Francisco. Para superar esta metacrise e co-responsabilizarmo-nos pelo presente e o futuro do planeta, temos de assumir uma visão holística que vincule criação e fraternidade e nos faça sonhar, projectar e actuar juntos na construção de um futuro mais justo e sustentável para toda a Humanidade. Um desafio incontornável para os discípulos missionários de Jesus Cristo, pois a fé cristã está, necessariamente, associada ao cuidado da Casa Comum e à protecção da vida.
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