Para que serve a comunicação social? O que podemos esperar das notícias? O que move o jornalismo? Estas questões emergem da leitura da mensagem do Papa Francisco a propósito do LV Dia Mundial das Comunicações Sociais. A resposta a estas perguntas ajuda-nos a compreender o repto lançado pelo Santo Padre ao jornalismo sedentário e de gabinete, mimético e distante dos que precisam de atenção.
Com a internet, à quantidade elevada de meios profissionais – jornais, televisões e rádios – juntaram-se plataformas não profissionais de informação. Estes novos espaços rivalizam pela atenção dos consumidores de notícias e comprometem o negócio da informação. A aparente gratuitidade contribui para a diminuição das vendas e o desvio do investimento da publicidade para intermediários digitais, como o Google e o Facebook.
Este contexto ajuda a compreender porque é que os meios são, tal como o Santo Padre afirma: «jornais fotocópia». A crise do sector gera mimetismo em vez de diferenciação: se um meio trata um determinado tema, os outros vão atrás. Se um título continua um assunto, os outros não largam o tópico. Por receio que os projectos vizinhos conquistem as pessoas disponíveis para consumir informação, os diferentes meios oferecem algo semelhante para evitar a debandada.
A crise tem conduzido, também, ao despedimento de jornalistas e à diminuição das redacções. Os recursos são cada vez mais escassos para tantas tarefas e esta debilidade tem sido rentabilizada pelas agências de comunicação e assessoria, que produzem conteúdos prontos a divulgar. Esta profissionalização das fontes – nomeadamente políticas, económicas ou futebolísticas –, contribui, igualmente, para o mimetismo informativo. As redes sociais dão mais um contributo: com poucos cliques e a partir de frases publicadas no Facebook ou no Twitter constroem-se notícias. Todavia, como o material disponível é limitado, as mesmas frases são reproduzidas em meios diferentes.
Todas estas dinâmicas afastam os jornalistas do terreno, lugar onde a originalidade se constrói. É preciso tempo para conhecer os sítios, as suas pessoas e descobrir histórias. E isto só é possível, como assinala o Papa Francisco, gastando as solas dos sapatos: «O método “vem e verás” é o mais simples para se conhecer uma realidade».
As razões evocadas conduzem, ainda, ao desinvestimento em correspondentes e repórteres. Assim se descobriam vidas para contar, nomeadamente de privação e em risco. A visibilidade é um instrumento de alerta, sensibilização e pressão. A escassa presença de notícias sobre o que se passa em África ou na América Latina gera, assim, uma invisibilidade de segundo grau a quem já é invisível e mudo: os que vivem em condições de pobreza e enorme desigualdade.
Por tudo isto, não se podem desvalorizar as solas dos sapatos. Só assim se consegue encontrar as pessoas onde estão e como são. E só assim podem ser retiradas da invisibilidade, entendida como o primeiro passo para a acção.