Opinião
09 junho 2021

Vacinação a conta-gotas

Tempo de leitura: 4 min
A imunização da África ao novo coronavírus decorre lentamente.
P. José Vieira
Missionário Comboniano
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(© Lusa/Kim Ludbrook)

 

O processo de vacinação contra a covid-19 nos países africanos está muito lento devido ao atraso nas entregas e falta de vacinas que, com o aparecimento de estirpes mais contagiosas, pode provocar uma terceira vaga de infecções no continente. O alerta foi dado no início de Maio por Matshidiso Moeti, directora regional da Organização Mundial de Saúde para a África.

Nessa altura, a África tinha recebido só um por cento das vacinas administradas globalmente. Metade dos 37 milhões de doses distribuídas aos africanos tinham sido aplicadas, mas só o Ruanda, Senegal, Gana, Togo, Tunísia, Suazilândia e Botsuana conseguiram esgotar as reservas. O Sudão do Sul e o Maláui deixaram expirar e destruíram mais de 75 mil doses. A República Democrática do Congo, que recebeu 1,8 milhões de doses, só conseguiu aplicar cinco mil, e distribuiu os 1,3 milhões restantes pelos países vizinhos. Globalmente, tinham sido administradas cerca de 150 doses por mil pessoas; na África Subsariana a média rondava as meras oito doses por mil.

As Seicheles, um arquipélago de 115 ilhas no Índico, é a grande história de sucesso no continente e no globo: 61 por cento dos quase 98 mil habitantes já tomou as duas doses da vacina. Contudo, no início de Maio o país estava às voltas com uma nova vaga de infecções. Trinta e sete por cento das vítimas estavam vacinadas.

Em África, o processo de imunização contra a covid-19 tem sido afectado sobretudo pela falta de vacinas. A AstraZeneca é a marca de eleição: é barata e fácil de transportar, conservar e aplicar. Mas em Março o Governo indiano proibiu o Serum Institute – que a produz sob licença – de exportar o antígeno, porque precisa dele para fazer frente à enorme vaga de covid-19 no país.

As vacinas chegam aos países africanos através da COVAX (um mecanismo global de aquisição e distribuição de vacinas), da União Africana e de ofertas da China, Rússia, Emirados Árabes Unidos e Índia. A África do Sul comprou um milhão de doses da AstraZeneca para depois as vender à União Africana porque a vacina oferece pouca protecção à nova variante sul-africana.

O fornecimento e distribuição das vacinas, agudizado por redes viárias em mau estado e falta de meios económicos para comprar material de protecção pessoal e pagar aos vacinadores, aliado à falta de um planeamento eficaz das campanhas de vacinação, à desinformação através das redes sociais e à má publicidade que a AstraZeneca recebeu, estão entre as causas que têm retardado a vacinação na África. Um em cada cinco africanos inquiridos num estudo recente respondeu que não tenciona ser vacinado.

Há alguma esperança! A Johnson & Johnson prometeu fornecer à União Africana 400 milhões de doses da sua vacina de toma única. A proposta do presidente norte-americano, Joe Biden, de suspender as patentes das vacinas contra o SARS-CoV-2 pode ser uma boa notícia, porque a África do Sul, Egipto, Etiópia, Marrocos, Senegal e Tunísia têm capacidade e tecnologia de produção de vacinas. 

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