Os católicos da América representam quase metade do total mundial (48,1% dos 1,34 mil milhões de baptizados). E é no Sul e Centro desse continente que a Igreja está a efectuar com grande interesse e entusiasmo o processo sinodal de reflexão e escuta que culminará com a primeira Assembleia Eclesial da América Latina e das Caraíbas. Convocada pelo Papa Francisco, o lema da Assembleia é «Somos todos discípulos missionários em saída». Realizar-se-á de 21 a 28 de Novembro próximo no santuário de Nossa Senhora de Guadalupe (México) e, simultaneamente, noutros países do continente, tanto presencialmente como nos ambientes digitais.
O Papa Francisco tinha pedido que este encontro não fosse «uma elite separada do santo povo fiel de Deus» e, nesse sentido, o processo de reflexão está a ocorrer de forma ampla, recorrendo a uma metodologia representativa, inclusiva e participativa. Além das tradicionais representações episcopais e clericais, estão envolvidos na reflexão numerosos grupos dos sectores populares e integrantes das comunidades indígenas e afrodescendentes.
Um dos principais objectivos da Assembleia será responder, numa perspectiva sinodal, à pergunta: Quais são os novos desafios para a Igreja da América Latina e Caraíbas, à luz dos sinais dos tempos, do magistério do Papa Francisco e da V Conferência Geral de Aparecida?
O processo está inspirado nos quatro sonhos do Papa Francisco apresentados na exortação apostólica Querida Amazónia. O primeiro é o sonho eclesial, uma Igreja com rosto próprio, onde as comunidades sejam capazes de testemunhar o seu compromisso com a fé no continente e até aos últimos recantos do mundo. O segundo é um sonho ecológico, preservando os ecossistemas e a biodiversidade transbordante que enche os rios e florestas da região. O sonho social expressa-se na luta pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos marginalizados, ouvindo a sua voz e promovendo a sua dignidade. Por fim, o sonho cultural que visa a preservação da riqueza cultural e o valor dos diferentes grupos humanos do continente.
Este encontro quer acolher e responder às esperanças e desejos da Igreja e da população do continente, especialmente nesta época de (pós-)pandemia, mas sem esquecer outras pandemias que estão a destruir a vida de milhões de pessoas nessas latitudes do mundo, nomeadamente a cultura do descarte, que impregnou as relações e gera pobreza, exclusão e desigualdade. Nesse contexto, a Igreja quer ser missionária: testemunhando Jesus, cultivando a escuta e a proximidade, sendo presença fraterna e transformadora.
Esta primeira Assembleia Eclesial assume, definitivamente, um dos desafios do Concílio Vaticano II: edificar uma Igreja sinodal, em que todo o Povo de Deus participa, nas palavras do Papa Francisco, onde juntos «rezamos, falamos, pensamos, discutimos, procuramos a vontade de Deus». Esta iniciativa é, sem dúvida, renovadora e regeneradora, um sinal profético para a Igreja do século xxi, não só para a que peregrina na América Latina e Caraíbas, mas em todos os continentes.
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