Opinião
01 outubro 2021

Testemunhas do Evangelho

Tempo de leitura: 4 min
Os discípulos missionários estamos chamados, como sublinha o papa, a «sair para as periferias do mundo», tornando-nos «mensageiros e instrumentos de compaixão».
Bernardino Frutuoso
Director
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(Foto: © Lusa/ Miguel A. Lopes)

Uma bela canção de Pedro Abrunhosa, lançada durante o tempo da pandemia, menciona na letra: «Não estamos sós na tempestade / Ainda há luz neste mar alto / Ainda há anjos de verdade / Voam sozinhos no asfalto / Semeiam sonhos pelas trevas / Trazem histórias de saudade.» Esses «anjos» são, sem dúvida, os profissionais da saúde e todos aqueles que, pela sua proximidade e cuidado, serviram os que mais necessitavam nestes tempos atípicos da pandemia. Indubitavelmente, os missionários, que permanecem nos seus lugares de missão durante esta metacrise, integram esse grupo de «anjos».

Os missionários são homens e mulheres que, chamados por Deus, se encontram com Ele e decidem segui-Lo, assumindo o anúncio da Boa Nova de Jesus como a prioridade da sua vida. Eles, como afirma o Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano – ver páginas 18-21 –, dão testemunho do que viram e ouviram (cf. Actos 4,20). Eles usam todo o seu ser, até os sentidos, para testemunhar a Boa Notícia, pois os sentidos «são grandes entradas e saídas» da «humanidade» e da «fé», como refere o cardeal Tolentino Mendonça no livro A Mística do Instante (2014). O Papa Francisco indica, especificamente, três características físico-sensoriais – visão, audição e gosto/fala – que os crentes devemos afinar e que nos ajudam, neste momento da História, a experienciar o amor e a viver em «estado permanente de missão».

Com os olhos, iluminados pela esperança e sempre fixos no Infinito, os discípulos missionários observam a realidade. Essa perspectiva permite compreender o devir histórico, como diagnostica o pontífice no caso da covid-19: «A situação da pandemia evidenciou e aumentou o sofrimento, a solidão, a pobreza e as injustiças de que já tantos padeciam, e desmascarou as nossas falsas seguranças e as fragmentações e polarizações que nos dilaceram silenciosamente. Os mais frágeis e vulneráveis sentiram ainda mais a sua vulnerabilidade e fragilidade. Experimentámos o desânimo, a decepção, o cansaço; e até a amargura conformista, que tira a esperança, se apoderou do nosso olhar.» E reconhecendo as realidades concretas em que vivem, os cristãos comprometem-se activamente na construção de um mundo melhor, mais fraterno e justo.

Com os ouvidos, os seguidores de Jesus escutam a brisa do Espírito e o grito dos pobres, dos crucificados da História, dos descartados... Convidam, assim, a humanidade a ouvir a voz de Deus e a ter vida em abundância.

Com a boca, os amigos de Jesus alimentam-se da Palavra viva e libertadora de Deus, proclamam «o perfume do Evangelho» no quotidiano, denunciam profeticamente a cultura de morte e comunicam, sem medo, a Boa Nova até aos confins da Terra.

Os discípulos missionários estamos chamados, como sublinha o papa, a viver a vocação missionária como «uma verdadeira história de amor» e a «sair para as periferias do mundo», tornando-nos «mensageiros e instrumentos de compaixão», caminhando com os mais pobres e excluídos e configurando no mundo o sonho evangélico da fraternidade, do amor e do bem comum. 

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Editorial
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