Estava de viagem na Birmânia (Mianmar). Aproveitámos uma tarde que nos tinha ficado livre, num programa de visitas a vários seminários do país, e fomos ver um parque natural que ficava perto da cidade de Pyin Oo Lwin, na região de Mandalay (planalto central da Birmânia). Depois de uma boa caminhada por carreiros no meio da floresta luxuriante, deparei com uma árvore extraordinária: não era muito alta, talvez uns oito metros de altura, mas os seus ramos, começando a pouca distância do chão, estendiam-se por mais de 20 metros para cada lado do tronco. Fiquei parado a alguma distância, a contemplar aquela maravilha da Natureza.
Ao sacerdote birmanês que me acompanhava perguntei: «Como é possível que os ramos de uma árvore possam chegar tão longe, e em todas as direcções?» E ele, sorrindo, explicou: «O segredo está nas raízes!»
Então olhei para o chão: as raízes, algumas a descoberto, formavam uma rede ainda mais larga a toda a volta do tronco. Penetrando na terra a toda a volta, encontravam alimento abundante e âncora firme para aquela criatura imensa.
Era das suas raízes, e da luz abundante do Sol, lá por cima da copa, que aquela árvore maravilhosa recebia energia e força para que os seus ramos pudessem chegar tão longe.
A imagem daquela árvore volta à minha imaginação sempre que me dizem que essa árvore que é a nossa fé cristã não consegue chegar a certas áreas da vida das nossas sociedades e da nossa gente. De novo ressoam em mim palavras do amigo birmanês: «O segredo está nas raízes!» Os ramos da árvore só lá chegam se lá estiverem também as raízes.
Uma das minhas frases favoritas do Concílio Vaticano II (AG 22) diz que «a semente da palavra de Deus, germinando em boa terra, regada pelo orvalho divino, absorve a seiva, transforma-se e assimila-a para produzir fruto abundante». E do mesmo modo, as Igrejas «recebem dos costumes e das tradições dos seus povos, da sabedoria […] das artes e das disciplinas, tudo o que pode contribuir para confessar a glória do criador, ilustrar a graça do Salvador, e ordenar a vida cristã».
Se os ramos da nossa fé não conseguem chegar a dar frutos em certos aspectos da vida da nossa gente, ou em certas faixas da nossa população – muitos jovens ficam lá por longe – não será porque começámos a «encolher as nossas raízes» e a procurar nutrientes e força só «junto ao tronco», em vez de termos a coragem de estender as nossas raízes bem mais para o largo? A juventude, os mundos do trabalho, da ciência ou da política, não são esses também «terrenos ricos de húmus» onde a árvore da fé pode encontrar alimento e energias novas, desafios, para continuar a crescer e a alargar perspectivas?
Evangelizar também é isso mesmo: a coragem de estender as raízes mais ao largo, em novos terrenos. Quando a Igreja teve essa ousadia, encontrou problemas, é verdade, mas acabou sempre por sair muito mais enriquecida, e esses terrenos descobriram também novas potencialidades neles mesmos. E nós missionários vivemos esses dinamismos em primeira pessoa.
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