Uma das primeiras afirmações que marcaram a diferença no presente pontificado foi a de uma «Igreja em saída»: apenas eleito, o Papa Francisco desvelou este seu sonho de uma Igreja em saída para ir às periferias, tanto geográficas como sociais, culturais como religiosas. Este sonho do papa tem sido evocado como um referimento essencial do seu comportamento e do seu ensinamento.
O encontro, de que falámos no mês passado, para ser possível exige a saída, um êxodo, tanto a nível pessoal como comunitário. Na tradição hebraica e cristã, a construção da identidade pessoal não se faz em resposta à própria ambição, mas sim em resposta a uma vocação, a um apelo que vem de fora, do Outro (de Deus) e dos outros.
Nesta visão, a pessoa humana está aberta à transcendência, à capacidade de sair de si e se afirmar para lá das próprias pulsões, no encontro e na afirmação do outro antes de si própria. Foi assim com Abraão, que começou o seu caminho de fé em resposta a um apelo a sair da sua terra, da sua família, do seu mundo, para ir onde o Outro lhe indicava. Foi assim com Moisés, que guiou uma saída, um êxodo de libertação da escravidão para a liberdade.
O sonho do Papa Francisco de uma Igreja em saída tem, pois, raízes antigas e alimenta-se neste dinamismo de transcendência que, em cada geração cristã, coloca a missão fora de si, nas periferias. A expressão aplica-se à Igreja e à sua missão e exprime «uma atitude fundamental frente à vida, um modo de ser e estar, [...] um movimento conatural ao espírito da missão cristã» (Francesc Torralba, Dizionario Bergoglio, 2019, pág. 299).
De muitas maneiras e em muitas ocasiões, o Papa Francisco propõe este movimento para a Igreja permanecer fiel à sua missão de anunciar Cristo ao mundo e vê-o «como horizonte de referência para o futuro imediato», falando de «um binómio que se poderia formular assim: Igreja-em-saída = laicado-em-saída» (Discurso à Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para os Leigos, 17 de Junho de 2016). E precisa: «A Igreja em saída é uma Igreja com as portas abertas.» E sugere os verbos para declinar este movimento de saída eclesial: «tomar a iniciativa, comprometer-se, acompanhar, frutificar, festejar» (Evangelii Gaudium, 24).
O Papa Francisco propõe aos cristãos uma atitude de abertura e de inclusão para com todos, especialmente para com os pobres e os descartados. Trata-se de «um dinamismo missionário que deve chegar a todos sem excepção» (Evangelii Gaudium, 48), seguindo uma orientação evangélica clara: «Hoje e sempre os pobres são os destinatários prioritários do Evangelho e a evangelização dirigida a eles é sinal da soberania de Deus que Jesus veio anunciar. É necessário afirmar que existe um vínculo inseparável entre a nossa fé e os pobres.»
Neste «sair para oferecer a vida de Jesus», os missionários deixam-se habitar pela paixão por Deus e pela humanidade que configurou o coração e a vida de Jesus, deixando-se inquietar por «tantos irmãos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida» (Evangelii Gaudium, 49).
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