Opinião
22 abril 2022

Cinco palavras-chave

Tempo de leitura: 4 min
Sem paz não há futuro e todas as crises se agravam. Mudemos de rumo porque é urgente salvar a Terra.
Francisco Ferreira
Associação ZERO e Professor no CENSE/FCT-NOVA
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(© 123RF)

 

O Dia da Terra, que se comemora a 22 de Abril, pode servir de motivo para nos lembrarmos dos desafios que marcam o nosso planeta.

Vivemos uma crise climática e uma parte do 6.º relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas divulgada no final de Fevereiro é muito clara – desde a última avaliação, houve um aumento substancial nos impactos das alterações climáticas na Europa que resultaram em perdas e danos nos ecossistemas, nos sistemas alimentares, infra-estruturas, disponibilidade de energia e água, economia e saúde pública. O aquecimento na Europa continuará a aumentar mais rapidamente do que a média global, aumentando as disparidades em todo o continente. As projecções indicam impactos substancialmente negativos para as regiões do Sul, como, por exemplo, aumento das necessidades de arrefecimento, escassez de água e diminuição da produtividade agrícola.

Ao mesmo tempo, a vida na Terra está doente. A biodiversidade, à custa das alterações do clima, mas também da exploração de recursos e da destruição de muitas áreas naturais, das florestas aos oceanos, ameaça mais de um milhão de espécies de extinção, mas acima de tudo põe em causa o equilíbrio que assegura inúmeros serviços que a Natureza nos garante, dos alimentos à água potável e ao solo.

Temos ainda uma crise de recursos. Na sociedade consumista em que vivemos, esquecendo os limites do nosso planeta, esgotamos reservas e desperdiçamos demasiado, além de dentro dos países e entre países as desigualdades serem gritantes. Esgotamos os recursos depressa de mais, temos uma pegada ecológica muito acima daquilo que a Natureza renova todos os anos, e vivemos a crédito quase toda a última metade de cada ano. Esquecemos também uma palavra essencial – a suficiência – que não põe em causa os objectivos centrais que deveríamos ter de assegurar o bem-estar e a qualidade de vida de todos.

Grande parte da população mundial está já enfraquecida pelos impactos das alterações climáticas, a pandemia da covid-19 e as guerras em curso. Não queremos mais instabilidade e perda de vidas. Percebemos como os combustíveis fósseis, o gás e o petróleo exacerbam os conflitos, levando as pessoas mais vulneráveis a sofrer ainda mais. As sociedades com energia renovável acessível a todos não apenas ajudarão a enfrentar a crise climática, mas também garantirão a segurança energética, sendo o melhor seguro contra futuros aumentos dos preços da energia para proteger os mais fracos. Uma transição para um sistema de energia 100% renovável é também uma transição para sociedades mais pacíficas.

Em 2015, nas Nações Unidas, aprovámos dezassete objectivos para o desenvolvimento sustentável e uma agenda para 2030. Foram traduzidos por cinco palavras todas começadas por p em inglês, em português e certamente noutras línguas – pessoas, planeta, prosperidade, parcerias e paz. Sem paz não há futuro e todas as crises se agravam. Mudemos de rumo porque é urgente salvar a Terra.    

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