Um gesto que eu sempre vejo com alguma emoção, nas festas de casamento da minha terra, é quando a noiva vai oferecer o seu ramo a Nossa Senhora, colocando-o aos pés da estátua, lá na igreja. Além de dar para fazer uma linda foto que recordará um dia único na vida, é como se aquele gesto abrisse uma janela que dá para o infinito. Nesse dia, toda a atenção se concentra nos noivos, a beleza de duas vidas que se encontraram e decidiram ser um só dali em diante, e a amizade de tantas pessoas que com a sua presença dizem: «Parabéns, estamos felizes convosco!» Com a oferta do ramo é como se a noiva estivesse a dizer: «A nossa alegria, os nossos sonhos são tão lindos que não cabem neste mundo, abrem-nos a vida em direcção ao infinito, a Deus... E dizemo-lo com flores.»
Os entendidos lá dirão porquê, mas o certo é que em todas as culturas que conheço, as flores estão presentes em boa parte dos rituais religiosos ou mesmo só sociais; penso nas grinaldas de flores frescas sempre presentes nos casamentos e nos grandes momentos da vida na Índia, mas penso também nas grandes civilizações da América Central; os Aztecas afirmavam que a música e as flores são a língua em que Deus gosta de falar connosco, e não admira que também as nossas ofertas e orações sejam sempre acompanhadas por flores e música. É por isso que esses dois elementos, flores e canto, têm sempre lugar de honra nas várias expressões de devoção no santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, México. A Virgem de Guadalupe é para esses povos a imagem excelente do cuidado paterno e materno que Deus tem por nós. Numa das aparições, na colina perto da cidade, Maria de Guadalupe diz ao índio Juan Diego: «Não temas, não sou eu a tua mãe que está aqui?» Os cristãos dizem com flores e música a sua total confiança em Deus. E o manto da Virgem está, naturalmente, decorado com desenhos de flores e pássaros que cantam.
Gostamos de dizer: «se não encontra palavras, diga-o com flores». É muito mais do que uma boa propaganda para floristas. De facto, esse convite aponta para um elemento muito profundo na nossa existência humana: o mais belo da Natureza, as flores, abre canais de comunicação mais profunda com os outros e, em última análise, leva-nos à comunhão com Deus. Às vezes, também nós pegamos em flores para dizer a Deus coisas que não cabem em palavras.
Em Fátima gosto de ver as flores brancas no andor de Nossa Senhora, e as muitas mais que todos os dias as pessoas lá entregam na Capelinha das Aparições. Cada uma daquelas flores é uma oração, um recado que alguém deixa a Nossa Senhora, para que chegue até Deus. Cada flor que ali se oferece leva consigo gratidão, alegrias e quiçá também incertezas e angústias. Em cada uma daquelas flores brancas é uma porção da vida de alguém, que, pelas mãos maternas de Maria, chega ao coração de Deus.
Também entre as pessoas a flor pode ser um meio de comunicação para dizer bem mais do que mensagens ditas ou escritas. Gosto de pensar que, na Natureza, Deus nos oferece muitas maneiras de falar uns com os outros e com Ele. As flores são uma linguagem com a qual podemos dizer muito do que nos vai na alma, a uma pessoa amiga e a Deus.
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