Estamos a viver o Tempo Pascal – o período de cinquenta dias que se estende da Páscoa até à festa do Pentescostes – fazendo memória da celebração da Páscoa, o evento central da liturgia e da vida dos cristãos. Se procurarmos, no vocabulário do Papa Francisco, uma palavra adequada para este tempo e para uma consideração sobre a missão cristã à luz da Páscoa, a nossa escolha vai cair sobre a palavra «alegria», que encontramos nas intervenções do papa sobre a missão e a reforma missionária da Igreja.
A alegria pascal, que nasce do encontro com o Senhor ressuscitado, transfigura os rostos e a vida dos discípulos (cf. Lc 24, 34). A experiência do encontro com o Ressuscitado trouxe aos primeiros discípulos de Cristo um novo entendimento da sua vida e da sua mensagem, da sua paixão e morte. E da própria missão como discípulos de Cristo no mundo: «Vimos o Senhor! E não podemos calar o que vimos!» (Actos 4, 20 e 5, 32).
O apelo à alegria de comunicar o anúncio cristão é uma constante no ensinamento do Papa Francisco, e é como que a porta de entrada na missão cristã, seja qual for a forma como a vivamos: «A alegria do Evangelho enche o coração e a vida de quantos se encontram com Cristo» é a afirmação com que o papa começa a sua exortação apostólica sobre a evangelização (cf. a exortação apostólica A Alegria do Evangelho, n.o 1) que é para nós a referência obrigatória, na hora de pensarmos na missão e na nossa contribuição à configuração missionária da Igreja, com que o papa sonha. Nela o papa repete o convite a «não nos deixarmos roubar o entusiasmo missionário» e a «alegria da evangelização» (cf. A Alegria do Evangelho, números 80 e 83).
Naturalmente, a alegria é uma emoção que se deixa colorir de modo diverso nas várias estações da vida e que não anula as dificuldades do caminho da evangelização e do testemunho cristão no mundo de hoje. O convite do Papa Francisco ressoa como alerta a não nos deixarmos invadir pela tristeza e solidão da nossa cultura individualista e consumista, que isola as pessoas e reduz o espaço interior necessário para acolher o outro, que elimina a capacidade de nos entusiasmarmos com o bem dos outros. Ora, sem esta capacidade e esta abertura, o missionário e a missionária não encontram modo de servirem a missão cristã, nem os cristãos a maneira de testemunharem o Evangelho de Cristo.
Este apelo insistente à alegria, aos olhos de alguns pode aparecer como um modo de minimizar as dificuldades da evangelização. Estas são enormes, como nos mostra o número dos missionários mortos cada ano, perseguidos e excluídos por causa da mensagem que anunciam e dos valores que incarnam. Mas estas dificuldades só fazem mais pertinente o apelo do papa e necessário o testemunho da alegria de quantos se interessam pela missão cristã hoje, que não podem esquecer a fonte da sua alegria e resiliência interiores. Esta fonte, como nos recordou Bento XVI e nos lembra Francisco, é o encontro diário com Cristo, pois «na origem do ser cristão não está uma [nossa] decisão moral, mas um acontecimento, um encontro com uma Pessoa que confere à vida um novo horizonte e uma direcção decisiva» (A Alegria do Evangelho, n.o 7; Deus Caritas Est, n.o 1).
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