Opinião
01 setembro 2022

Escutar a voz da criação

Tempo de leitura: 4 min
O Tempo da Criação é um tempo propício para parar, ouvir o grito da Terra e dos irmãos.
Bernardino Frutuoso
Director
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(© 123RF)

 

No mês de Setembro, os cristãos de todo o planeta unem-se na celebração ecuménica do Tempo da Criação, o período anual de oração e acção pela Casa Comum. Este tempo começa no dia 1.º de Setembro, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, e termina no dia 4 de Outubro, festa de São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia.

Na mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, o Papa Francisco refere que, se escutarmos a voz da Criação com atenção, podemos perceber uma espécie de dissonância.

Por um lado, ouvimos o canto doce da Criação que nos convida a praticar uma «espiritualidade ecológica» (Laudato Si’, 216), prestando atenção à presença de Deus no mundo natural.

Por outro lado, ouvimos também um «coro de gritos amargos» da Mãe Terra. Ela está à mercê dos «nossos excessos consumistas» e «geme implorando para pararmos com os nossos abusos e a sua destruição». Gritam, igualmente, as diversas criaturas, sujeitas a um «antropocentrismo despótico» (Laudato Si’, 68), que está a extinguir inúmeras espécies. Ouve-se também o grito dos mais pobres, que sofrem «mais severamente o impacto de secas, inundações, furacões e vagas de calor que se vão tornando cada vez mais intensas e frequentes». Francisco lembra ainda o «clamor que brada ao céu» (Querida Amazónia, 9) dos povos indígenas que, por causa de «predatórios interesses económicos», vêem os seus territórios ancestrais serem invadidos e devastados. E gritam, ainda, as gerações jovens, que pedem que se previna ou pelo menos se limite o colapso dos ecossistemas.

Ao escutar estes gritos amargos do planeta, sublinha Francisco, «devemo-nos arrepender e mudar os estilos de vida e os sistemas danosos». Nesta óptica, «a própria comunidade das nações é chamada a empenhar-se, com espírito de máxima cooperação, especialmente nos encontros das Nações Unidas dedicados à questão ambiental».

Nesta chamada de atenção para o imperativo da colaboração, Francisco refere a cimeira COP27 sobre o clima, que se vai realizar no Egipto em Novembro de 2022, e constitui uma oportunidade para promover uma eficaz aplicação do Acordo de Paris. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas assinala no relatório Alterações Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade que «é inequívoco que as alterações climáticas já afectam milhões de pessoas» e são uma ameaça gigante para o nosso bem-estar e para um planeta saudável. Faz, por isso, um apelo a assumir medidas urgentes e fortes na luta contra as alterações climáticas.

O papa alude ainda à cimeira COP15 sobre a biodiversidade, que se realizará no Canadá em Dezembro e irá proporcionar uma oportunidade para a adopção de um «novo acordo multilateral para deter a destruição dos ecossistemas e a extinção das espécies».

O Tempo da Criação é um tempo propício para parar, ouvir o grito da Terra e dos irmãos. Um tempo para estreitar os laços de fraternidade e amizade social e gerar novas formas de relacionamento com a Natureza. Um tempo para cuidar da Casa Comum e, assim, alegrarmo-nos com «o canto doce de vida e de esperança de todas as criaturas de Deus». 

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Editorial
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