Este ano vai calhar no sábado, dia 10. É a primeira lua cheia de Setembro. Para muitos de nós, nascidos em Portugal, talvez não diga grande coisa. Mas, se tivermos amigos chineses, vietnamitas ou de outros países do Extremo Oriente, não esqueçamos de lhes dar os parabéns e de lhes desejar feliz festa. É a Festa da Lua.
No seminário internacional em que trabalhei vários anos, em Roma, tínhamos sempre algumas dezenas de seminaristas vindos destes países, e era uma alegria participar na festa deles, nessa noite. Nas suas culturas, é a festa do fim das colheitas de Verão, e há que agradecer a abundância de comida por mais um ano que assim vai ser vivido em paz e harmonia.
Os deliciosos bolos da Lua que se comem e se oferecem a todos nessa noite são sinal de abundância e de felicidade.
Fazíamos a festa no terraço da casa, naturalmente. O gesto de todos era olhar para a Lua, e pensar que lá longe, na China, no Vietname ou na Coreia, os nossos pais, irmãos e amigos, nesse dia olhavam para a mesma Lua e saboreavam aqueles mesmos bolos, que tinham no centro uma rodela de ovo, sinal da Lua e da fartura de alimento. Em Portugal poderíamos chamá-la “a festa da saudade”. Mesmo se separadas pelas grandes distâncias da imigração, as famílias sentiam-se unidas nessa noite.
É uma festa antiquíssima. Os Chineses celebram-na desde os tempos da dinastia Shang, mil e seiscentos anos antes de Cristo! Nesse tempo, a Festa da Lua estava ligada à antiga divindade da Lua, a deusa da imortalidade. Hoje é uma festa de família e de saudade de quem está longe.
Olhar para a Lua, ou para as estrelas, faz-nos bem.
A este propósito, o bispo Hélder Câmara, já velhinho, gostava de contar a história da formiga que, um dia, levou um tal pontapé que a deixou estendida de costas, de pernas para o ar. Logo ali, fechou os olhos e gritou de raiva, mas depois abriu os olhos, olhou para cima e, pela primeira vez na sua vida, viu o céu. Então deixou de gritar e disse: «Abençoado pontapé, que me fez descobrir coisa tão linda!»
A mais linda noite estrelada que eu vi foi no deserto de Lokori, Quénia, no território do povo Turkana, onde fui visitar um colega missionário. Ao princípio da noite, a temperatura baixava para perto de 40 graus. Ainda não dava para descansar dentro de casa. Então passávamos as primeiras horas da noite estendidos em esteiras, no exterior, a conversar baixinho olhando extasiados um céu estrelado, que devia ser como o que Deus mostrou a Abraão numa outra noite, alguns milhares de anos antes.
A Bíblia conta a história do anjo de Deus que convidou Abraão a «olhar para o céu e tentar contar o número das estrelas» (Gen 15,5). «Assim será o número da tua descendência», disse Deus ao velho Abraão, que tinha perdido a esperança no futuro.
A festa da lua cheia de Setembro, além de um momento especial de amizade e de bolinhos deliciosos com os amigos do Oriente, era para mim um daqueles momentos mágicos em que se deixa que a Natureza, com os seus ritmos e a sua luz, nos convide a levantar os olhos das nossas coisas pequenas de todos os dias para olhar e pensar com a largueza de horizontes que é mais característica de Deus.
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