Opinião
04 outubro 2022

Testemunhar

Tempo de leitura: 4 min
Testemunhar não é uma arte que se aprenda, mas uma vida que se vive.
P. Manuel Augusto Lopes Ferreira
Missionário comboniano
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(© Missio / Peter Goda)

 

Seguindo o tema para o Dia Mundial das Missões, falamos este mês da missão, referida à comunidade eclesial e àqueles que a assumem em primeira pessoa; falamos dela como testemunho. Usamos a palavra-chave da mensagem do papa. No seu texto, ele fala de três «alicerces da vida e da missão» dos discípulos de Cristo: «Sereis minhas testemunhas», «até aos confins do mundo» e «recebereis a força do Espírito Santo». Por razões de espaço, falamos agora só do primeiro.

O papa destaca a forma plural da afirmação «sereis minhas testemunhas», que «afirma o carácter comunitário-eclesial» da missão. «Todo o baptizado é chamado à missão na Igreja» e «por isso a missão realiza-se em conjunto, em comunhão com a comunidade eclesial e não por iniciativa própria». Em conclusão lógica, Francisco recorda (citando Paulo VI) que «evangelizar não é, para quem quer que seja, um acto individual e isolado, mas profundamente eclesial».

Testemunhar não é uma arte que se aprenda, mas uma vida que se vive. Francisco fala de «viver a vida pessoal em chave de missão». Os discípulos de Jesus, os missionários, «são enviados não só para fazer a missão, mas também e sobretudo para viver a missão que lhes foi confiada; não só para dar testemunho, mas também e sobretudo para ser testemunhas de Cristo». Ao centro do testemunho cristão está a pessoa de Cristo e não a do missionário ou a Igreja mesma: «A essência da missão é testemunhar Cristo, isto é, a sua vida, paixão, morte e ressurreição por amor do Pai e da humanidade».

Não se trata aqui de um mero jogo de palavras: «Aquele que devemos testemunhar e cuja vida devemos partilhar», continua o papa, «é Cristo, e Cristo ressuscitado». A conclusão é óbvia: Os missionários «têm a honra sublime de oferecer Cristo, por palavras e acções, anunciando a Boa Nova da sua salvação, com alegria e ousadia».

Os missionários, por vezes, fazemos ponto de honra em falar das obras que inspiramos para promover o bem das pessoas. Mas a nossa honra, como recorda o papa, referindo-se a São Paulo (Gálatas 6, 14-18), não está nestas obras, mas na cruz de Cristo, nos «estigmas de Cristo» que trazemos no corpo. Por isso, Francisco recorda que «a verdadeira testemunha é o mártir, aquele que dá a vida por Cristo, retribuindo o dom que Ele nos fez de Si mesmo».

O testemunho não anula as obras nem silencia a palavra. Coloca-os no seu devido lugar. A terminar, Francisco cita de novo Paulo VI: «O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres [...] ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas». Se, por um lado, é «fundamental o testemunho de vida evangélica dos cristãos», por outro, continua a ser «igualmente necessária a tarefa de anunciar a pessoa de Jesus e a sua mensagem».

Francisco refere «uma imagem muito bela da Igreja em saída para cumprir a sua vocação de testemunhar Cristo», onde «caminham juntos o exemplo de vida cristã e o anúncio de Cristo. São os dois pulmões com que deve respirar cada comunidade para ser missionária». 

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