«Os influencers são idolatrados como modelos. Deste modo, tudo isto adquire uma dimensão religiosa. [...] [Os] seguidores participam numa eucaristia digital. Os meios de comunicação social assemelham-se a uma igreja: o like é o ámen. Partilhar é a comunhão. O consumo é a redenção» (Byung-Chul Han, Infocracia, Relógio D’Água, 2022).
Por muito que isto nos custe, sobretudo para aqueles que não conseguem viver sem as redes sociais, esta provocação do filósofo Byung-Chul Han deveria perturbar-nos. Mas não. Aliás, basta ver qual foi a impressão que se evidenciou no relatório de Portugal para o Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade.
«Destaca-se a importância de renovar a forma de comunicar, promovendo uma linguagem mais cuidada, aberta e adaptada às realidades, capaz de clarificar os conteúdos da fé, e que faça uso regular da comunicação digital e das redes sociais para uma melhor evangelização, divulgação e proximidade.» Será que as pessoas que deram esta opinião desejam que a Igreja faça uso regular das redes sociais para ter muitos seguidores e ser mais um influencer de entre todos os outros? Dado o tempo que muitas pessoas são capazes de passar nas redes sociais, compreendo que a Igreja considere esse como um campo de evangelização. Mas a liberdade que se pensa ter na ponta dos nossos dedos não quer dizer que estejamos a actuar diante dos desafios sociais dos nossos tempos. Quer apenas dizer que clicamos, gostamos e postamos sem qualquer garantia de que isso seja um instrumento de transformação interior. Porém, não é essa uma das características da evangelização? A transformação interior?
Quando existe um problema, o gesto de arregaçar as mangas e sujar as mãos era a fonte do testemunho de alguém que não diz apenas o que pensa, mas tem a coragem de entrar na arena das dificuldades sociais. Dedos a clicar num ecrã não têm a mesma força de actuação. Por outro lado, para enfrentarmos desafios difíceis, precisamos de pensar bem nas coisas com serenidade, tempo e zelo. Mas como diz Byung-Chul Han, actualmente, «a informação tem uma margem de actualidade muito reduzida. Falta-lhe a estabilidade temporal, pois vive do “estímulo da surpresa”. Devido a essa instabilidade temporal, fragmenta a percepção. Destrói a realidade, tornando-a um “permanente frenesim da actualidade”» (Infocracia, p. 24). Apesar do inegável alcance das redes sociais, ainda precisam de sair da moda do momento para compreendermos o seu real valor.
Quando partilhei a minha opinião sobre a reacção das pessoas ao relatório acima referido, fiz referência à, aparentemente, ausente Teologia do Corpo de S. João Paulo II e recebi retorno de pessoas que a desconheciam. A Teologia do Corpo marcou profundamente a minha visão sobre a sexualidade quando era jovem. E muitos dos comentários sobre a moral sexual da Igreja no relatório demonstram um profundo desconhecimento desta Teologia. Logo, a sua descoberta é apenas um exemplo do quanto se desconhece ainda sobre o pensamento cristão que nasce da vida.
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