No mês de Dezembro, a nossa atenção de discípulos missionários vai para a contemplação do mistério do nascimento de Jesus, em Belém da Judeia; para a contemplação da incarnação do Filho de Deus, um mistério no centro da profissão de fé, do caminho e da missão dos cristãos.
Nesta breve reflexão gostaria de sublinhar, como o Papa Francisco faz, as implicações deste mistério para a vida dos missionários, qual mistério que se impõe como fundamento dos vários modelos de missão que porventura eles possam assumir ao longo da História. À luz do mistério da incarnação, a missão cristã exige esta capacidade de sair de si para abraçar a condição dos outros, para assumir a condição humana com tudo o que a caracteriza em cada tempo, povo e cultura. São Paulo diz-nos que Jesus não se fechou egoisticamente na sua condição divina, mas desvestiu-se dela e não teve vergonha de assumir a condição humana, em tudo semelhante a nós, menos no pecado (Filipenses 2, 5-11).
Ora esta capacidade de se desvestir da própria condição e cultura e de não se envergonhar da condição humana dos outros, povos e culturas, da natureza humana como ela se manifesta nas diferentes culturas e épocas, é um grande desafio para os missionários; uma graça a pedir e a procurar neste tempo de Natal.
Nascer é vir à luz; renascer é recuperar um olhar novo sobre a vida e o mundo, sobre as pessoas que nos rodeiam. A experiência primeira do nascer marca o sentido de cada experiência quotidiana do conhecer, que nos faz renascer e nos enriquece, tenha ela a forma que tiver: conhecer é, por isso e sempre, um nascer com, nascer para alguém ou alguma coisa.
Na conversão missionária da Igreja, com que sonha o papa, Francisco insiste sobre a capacidade de aproximação às pessoas e aos povos para testemunhar a misericórdia e o amor de Deus: o estilo de Deus é abaixar-se, fazer-se próximo de cada pessoa. Para os missionários e as missionárias é fundamental esta capacidade de proximidade geradora de comunhão.
Este renascer começa por depender do olhar. Olhar sempre em frente, diz o papa, que sugere que orientemos o nosso olhar em três horizontes: primeiro, olhar para mais além, procurando sempre novos povos, pessoas, interlocutores, ambientes, para vivermos e testemunharmos a soberania de Deus em Cristo; segundo, olhar para fora, procurando linguagem e modos de presença adaptados à mensagem cristã e aos tempos que vivemos; terceiro, olhar também para dentro, conservando a própria unidade sem deixar-se ferir por divisões e contraposições que podem ameaçar a comunhão na comunidade cristã e nas comunidades apostólicas que vivem a fraternidade para a missão.
Celebramos este Natal de 2022 e assumimos este (re)nascer num tempo particularmente difícil, em que a comunhão e a fraternidade estão ameaçadas pela violência e pelo abuso, a paz pela guerra e pela prepotência do mais forte. Ocorre-nos um olhar novo – o dos pastores que, transportados pela alegria do Natal de Jesus cantavam com os anjos «glória a Deus no Céu e paz na terra aos homens que Ele ama» – para fazer da crise e da dificuldade presente um momento de graça e uma ocasião para renascer.
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