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A 1 de Janeiro celebramos o Dia Mundial da Paz e, como é habitual desde 1968 quando a celebração foi instituída por São Paulo VI (1897-1978), o Papa Francisco publicou a mensagem alusiva à data e que tem como tema «Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir da covid-19 para traçar sendas de paz».
No texto, o papa desafia a Humanidade a aprender com a História e caminhar em conjunto. Na reflexão que faz, lembra os três anos de pandemia e menciona que a maior lição que a covid-19 nos deixa em herança «é a consciência de que todos precisamos uns dos outros, que o nosso maior tesouro, ainda que o mais frágil, é a fraternidade humana, fundada na filiação divina comum, e que ninguém pode salvar-se sozinho».
A mensagem centra-se, igualmente, na guerra declarada pela Rússia à Ucrânia, um flagelo guiado por «opções humanas culpáveis», que «ceifa vítimas inocentes e espalha a incerteza, não só para quantos são directamente afectados por ela, mas de forma generalizada e indiscriminada para todos». Ao longo do último ano, o papa alçou a sua voz mais de cem vezes para denunciar a crueldade do conflito e suplicar o fim desta «guerra mundial», que ele considera «aterrorizante e de uma enorme crueldade», como reafirmou numa recente entrevista ao diário espanhol ABC (na qual revelou que assinou a renúncia em caso de impedimento médico). Assim aconteceu, igualmente, no passado dia 8 de Dezembro, na tradicional homenagem à Imaculada Conceição, que se realiza cada ano na Praça de Espanha, em Roma, junto ao monumento erigido à Mãe de Jesus, sob esta invocação, Francisco dizia na sua prece: «Virgem Imaculada, hoje eu gostaria de trazer-te a acção de graças do povo ucraniano…» Nesse momento, a voz embargou-se-lhe e, por alguns segundos, não conseguiu prosseguir a leitura, tendo a multidão presente rompido numa salva de palmas. Mais sereno, continuou: «… do povo ucraniano, pela paz, que há muito tempo pedimos ao Senhor. Em vez disso, ainda tenho de apresentar-te a súplica das crianças, dos idosos, dos pais e mães, dos jovens daquela terra martirizada, que sofre tanto.»
Francisco, o pastor próximo, fraterno e profundamente humanista, chorou perante a devastação e o sofrimento deste povo martirizado. No seu coração de discípulo de Jesus, o papa carrega as dores e os sofrimentos que têm de suportar milhões de homens, mulheres e crianças inocentes na Ucrânia e nos outros países com conflitos em curso, agora menos mediatizados, noutros pontos do globo (ver neste número da Além-Mar a situação em Moçambique e na República Democrática do Congo). Convencido da força da oração para converter os corações e as mentes, reza e convida a orar a Deus pelo dom da paz. Além disso, não poupa esforços diplomáticos que conduzam ao diálogo e ao fim dos conflitos – sem dúvida, se lhe fosse permitido, já teria ido consolar o povo da Ucrânia e mediado o diálogo entre os presidentes dos países beligerantes.
A paz é urgente e todos juntos, como artesãos de paz, estamos chamados a construir neste 2023 um mundo melhor, mais fraterno, justo, solidário e pacífico.
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