Opinião
05 janeiro 2023

3... 2...1...

Tempo de leitura: 3 min
O 3... 2... 1... é simples, prático, curto e transformativo.
Miguel Oliveira Panão
Professor universitário
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Fizemos a típica contagem decrescente para o ano de 2023 e os ânimos elevam-se com a perspectiva de que seja um ano melhor. Todos os anos, a população mundial alimenta-se desta esperança e um mês depois, cai de novo na realidade inconsequente. Será possível fazer alguma coisa para manter viva a chama aberta por um novo ano? Parece-me ser uma questão de contagem: 3... 2... 1...

Todos os anos pensamos em propósitos, novos hábitos e agradecemos tudo o que vivemos no ano anterior, apesar das dificuldades sentidas. A proposta inspirada na contagem 3... 2... 1... baseia-se nestes aspectos.

3 Propósitos. O problema que muitas pessoas enfrentam quando se dão conta de não terem conseguido cumprir com os seus propósitos, ou sequer lembrarem-se de quais haviam definido pode estar no facto de serem muitos, ou sobredimensionados, ou ainda demasiado vagos.

Aquilo que muitos especialistas aconselham é a escolha de propósitos que sejam: específicos; mensuráveis; orientados para a acção; que nos levem a sair da zona de conforto e a arriscar; limitados no tempo; entusiasmantes, e relevantes para o nosso percurso de vida. Por exemplo, escrever um livro. É um propósito nobre, mas insuficiente. Para cumprir com as características que mencionei deveria ter definido — escrever um livro sobre o tempo com 50 000 palavras, com um ritmo diário de 600 palavras, com o primeiro rascunho feito em três meses, que ajude qualquer pessoa a encontrar um novo sentido para a experiência do tempo.

2 Minutos. Criar ritmos e hábitos (como o que referi anteriormente de escrever todos os dias 600 palavras no livro) exige o desenvolvimento da capacidade de persistir para não desistir. Por isso, pode começar por dois minutos. Por exemplo, se não conseguir escrever 600 palavras por dia por não estar habituado, posso usar apenas dois minutos para escrever o que conseguir. Não importa se escrevemos uma frase ou duas, desde que ocupemos apenas dois minutos. Tal como qualquer operação repetitiva, depressa escrever se torna um hábito e podemos alargar o tempo, mas tudo o que nos custar fazer, comecemos sempre por apenas dois minutos.

1 Pausa. Os dias começarão a escorregar-nos pelos dedos e as tarefas a acumular-se. Todos os dias valerá sempre a pena fazer um momento de pausa. Uma paragem para nos recentrarmos naquilo que tem mais valor para nós, ser gratos por todos os que partilham connosco o caminho da vida, ou partilharam no passado. Basta um minuto de silêncio a contemplar a vida do outro lado da janela, o chão de um transporte público, fechar os olhos e respirar fundo. Quem não pára, pelo menos, uma vez por dia pode um dia parar de vez.

Para muitas pessoas, até a experiência deste 3... 2... 1... pode ser penosa porque a inércia de navegarmos pela vida ao sabor das circunstâncias tornou-se propósito, hábito e resistimos a mudar. Mas daí a potência do 3... 2... 1...

É simples, prático, curto e transformativo. Quando experimentarmos o pouco que podemos mudar, persistentemente, aquilo que parece ser um pouco de nada revela-se, inesperadamente, o início da contagem crescente para um futuro melhor.  

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