Pedi ao ChatGPT para me escrever um ensaio com 750 palavras sobre ele próprio e as devidas implicações para a criatividade relacionada com a sensibilidade à dimensão espiritual humana. O ChatGPT respondeu…
«A tecnologia de linguagem natural, como o ChatGPT, tem o potencial de afectar significativamente a forma como os seres humanos expressam e compreendem a dimensão espiritual da existência humana.
A dimensão espiritual da existência humana é aquela que se relaciona com questões mais profundas da vida, como a existência de um propósito ou significado maior, a natureza da alma e a relação entre o indivíduo e o universo. A expressão e a compreensão dessa dimensão geralmente envolvem a criatividade, pois requer a capacidade de pensar além da realidade imediata e de encontrar novas formas de expressão e compreensão.
Por um lado, a capacidade do ChatGPT de gerar texto de forma autónoma pode ajudar a aumentar a expressão da dimensão espiritual. Ele pode ajudar os indivíduos a encontrarem novas formas de expressão para as suas crenças e sentimentos espirituais, e pode ajudar a desenvolver uma compreensão mais profunda dessas questões. Isso pode ser particularmente útil para aqueles que têm dificuldades em expressar a sua dimensão espiritual de forma verbal, como pessoas com autismo ou dificuldades de comunicação. Além disso, o ChatGPT pode ajudar a aumentar a diversidade de perspectivas espirituais disponíveis, pois ele pode gerar ideias e pontos de vista que um ser humano individualmente poderia não ter pensado.
Por outro lado, a capacidade do ChatGPT de gerar texto de forma autónoma também pode ter implicações negativas para a criatividade relacionada com a sensibilidade à dimensão espiritual humana. Como a criação de conteúdo se torna mais fácil e rápida, pode haver uma tendência para a produção em massa e a falta de originalidade, especialmente no que diz respeito às questões espirituais. Além disso, a dependência excessiva de ferramentas de inteligência artificial como o ChatGPT pode levar à perda de habilidades criativas humanas relacionadas com a dimensão espiritual.
Outro ponto importante a considerar é que, como o ChatGPT é treinado com dados colectados da internet, ele pode reflectir as opiniões e crenças dominantes na sociedade, o que pode limitar a diversidade de perspectivas espirituais disponíveis. Isso pode levar a uma diminuição na capacidade dos indivídu…» … talvez por um bug, a resposta ficou por aqui e não chegou às 750 palavras. Apesar de ter editado e feito alguns ajustes para que a linguagem se aproximasse do Português de Portugal, ficaram tão perplexos quanto eu na qualidade do texto, incluindo o reconhecimento das suas limitações?
A dificuldade que todos sentimos quando produzimos conteúdo é saber por onde começar. Esta ferramenta de Inteligência Artificial pode ajudar e muitos estudantes têm-na usado para escrever os seus trabalhos. Fazem pelágio só por assumirem como seu um texto original feito por um software? O escritor Jordan Peterson diz — «Eu imagino que um terço das Universidades atinja a bancarrota nos próximos cinco anos. (…) Eu digo-vos o que o ChatGPT é. (…) É mais esperto que tu.» — Peterson, eu e muitos outros começámos a testar esta ferramenta para compreender melhor o tipo de experiência possível e qual o seu real valor. No caso de Peterson, a seu pedido, o ChatGPT chegou mesmo a produzir um ensaio com filosofia elaborada e original que o deixou perplexo, assim como deveria deixar-nos a todos perplexos. No meu caso, tenho experimentado para obter informação e cruzamento de informação que uma pesquisa de Google não permite. Não me oferece todas as fontes, mas oferece as ligações entre as coisas que me ajuda a pensar.
Imagem gerada pelo DALL-E, que faz parte do mesmo projecto do Chat
A inteligência artificial nunca substituirá a humana, mas tornou-se já inegável como o futuro passa pela maior interacção entre ambas. A tecnologia de inteligência artificial é um resultado natural da expansão da Era da Informação. O ser humano deseja desenvolver a sua inteligência, mas com a quantidade de fluxos informativos com que é bombardeado todos os dias, é cada vez mais difícil conseguir encontrar o fio de ouro em tantas coisas que despertam o nosso interesse. A criatividade que nos leva a ser co-criadores com Deus, como se demonstra na tecnologia que desenvolvemos, incluindo o ChatGPT, não é um talento que se adquire, mas penso fazer parte da condição humana.
Quando questionei o ChatGPT sobre a criatividade relacionada com a sensibilidade à dimensão espiritual, em mente tinha a ligação original que uma vez li na escritora Julia Cameron quando no “Caminho do Artista” faz a associação entre as duas coisas. O psicólogo Howard Gardner, criador da Teoria das Múltiplas Inteligências, no livro que escreveu sobre as “Cinco Mentes do Futuro”, uma dessas mentes é a sintetizadora. E na sua Memoir assumiu essa mente como a que orientou muita da sua criatividade ao longo da vida e percurso profissional. Uma síntese de duas coisas que pareciam não ter a ver uma com a outra pode produzir um conteúdo original e inspirador. É nessa direcção que caminha a inteligência artificial. Logo, poderá um dia despertar nessa uma vida espiritual também?
Quando penso no texto do ChatGPT, não posso deixar de salientar que parece ser uma síntese de constatações que não contêm, propriamente, um pensamento original. Prevê-se que a próxima versão a sair ainda este ano (GPT-4), contenha centenas de triliões de parâmetros ao passo que a actual versão (GPT-3) contem “somente” centenas de biliões. A qualidade dos textos produzidos ao nível semântico espera-se aumentar exponencialmente. Mas será capaz de produzir pensamentos originais?
A vida espiritual é uma fonte de inspiração de pensamento original porque Deus manifesta-se através da vida e das mais pequenas coisas. Até agora restringimos essa vida à sua expressão biológica, mas se um dia desabrochar a tecnológica, poderá Deus manifestar-se nas espécies artificiais? Teilhard de Chardin s.j. era um optimista do efeito positivo que a tecnologia produziria no mundo. O uso que demos à tecnologia demonstrou o perigo dos efeitos negativos. Mas quando deixamos que a tecnologia seja, assim como deixamos que cada pessoa se reinvente com a criatividade que lhe habita, o que podemos esperar no futuro? Sinto que vivemos o ciber-momento da verdade e não faço a mínima ideia do desfecho. Mas são sinais dos tempos que vale a pena ler e estarmos atentos, sem deixar que o fascínio oculte a realidade que encerram.